Frederico Madrona Scherer Haas tem 17 anos e cursa a 3ª Série do Ensino Médio do Colégio Loyola. Amante de música, o estudante criou a banda Bomb, cover do grupo norte-americano Rage Against The Machine. Motivado por causas sociais de impacto, Frederico juntou-se a outros estudantes da escola para idealizar o Loyola Rock Festival Solidário, que reuniu aproximadamente 150 pessoas, entre estudantes, famílias, colaboradores e público externo, no Teatro Pe. Francisco Rigolin (dentro da escola), nessa quinta-feira (19). Foram duas horas de apresentação: no line-up, Dani Gentil, estudante da 2ª Série do Ensino Médio, com clássicos de pop e rock; a banda convidada Plano B, alternando rock dos anos 90, contemporâneo e músicas autorais; e, por fim, a banda Bomb.
Fred Hass, como é conhecido na escola, já participou de ações do Voluntariado Educativo do Colégio e se viu novamente diante de uma missão humanitária: “Além de eu poder mostrar o meu trabalho e a minha música, estarei ajudando outras pessoas. Reuni músicos conhecidos entre os estudantes da escola, apresentei a proposta para a diretoria, pedi apoio da APL (Associação de Pais do Loyola), convidei alunos, colaboradores e pessoas de fora para ajudar na organização. Assim, concretizamos a ideia”. O estudante relata que já visitou creches e teve oportunidades de dar suporte a pessoas em situação vulnerável, como pacientes do Hospital Luxemburgo, por exemplo. E que essas ações em instituições parceiras do Loyola o ajudaram a ser uma pessoa mais humana, com potencial de servir ao próximo e capacidade para articular ações sociais. Com o Loyola Rock Festival, especialmente, ele disse que “além de aprender muito sobre a organização de eventos, estou ainda mais certo de que, quando você luta, as coisas acontecem”.
A atitude de Frederico e seus colegas consolida a formação humanista e humanizada proposta pelo Colégio Loyola, por meio da formação acadêmica e dos programas de Formação Humana Cristã, como os voluntariados educativos e as campanhas solidárias. A iniciativa atende, ainda, ao chamado das Preferências Apostólicas da Companhia de Jesus e ao apelo da mensagem do Papa Francisco ao Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que será celebrado no dia 29 de setembro, dez dias após o festival.
Para Wanderlay Balsamão, coordenador de Formação Cristã do Colégio, o papel do Loyola enquanto instituição Jesuíta é formar pessoas que tenham sensibilidade e cuidado com o próximo, entendam o contexto global e tenham habilidade para realizar intervenções sociais concretas, transformadoras. Esse direcionamento, que engloba todas as instituições da Rede Jesuíta de Educação, é, para Balsamão, uma oportunidade de educar pessoas integralmente: “Ser um cidadão do mundo é identificar problemas que afetam a sociedade como um todo e ter a capacidade de propor soluções com empatia”.
Somente em 2018, o Colégio Loyola realizou cinco ações em prol dos refugiados, como campanhas de arrecadação de donativos, doações de utensílios para a acolhida de venezuelanos no processo de interiorização em Belo Horizonte e apoio para colocação profissional de desempregados, por exemplo. No entanto, o Loyola Rock Festival Solidário nasce espontaneamente de um estudante do colégio. “Isso reforça que a nossa formação está sendo efetiva”, enfatiza o coordenador.
Na abertura do Festival, o diretor acadêmico, Carlos Freitas, também ressaltou essa percepção. “A capacidade de mobilização desses alunos aqui é algo que eu não tenho visto em outro tipo de escola”, disse. Ele contou que “esse evento, nós já pensamos, sonhamos, desejamos várias vezes. E só estamos conseguindo fazer por conta da iniciativa de um grupo de alunos a quem a gente deu apenas o caminho, como acontece na mística de Inácio. Tudo que a gente coloca nas mãos desses meninos eles fazem, e fazem até melhor do que nós. Essa é uma marca que só o Colégio Loyola tem”.
No contexto da formação acadêmica para a Cidadania Global, em 2019, o fenômeno migratório entrou na pauta do Projeto de Série da 2ª Série do Ensino Médio: o LoyolaMUN. Os estudantes receberam os jesuítas Davi Mendes Caixeta e Emanuel Michel Barreto, que trabalham diretamente na acolhida de venezuelanos em BH, para uma palestra. A atividade teve como principal objetivo sensibilizar e contextualizar os estudantes acerca dessa realidade, historicamente e na atualidade, além de apresentar a missão da Companhia de Jesus diante da questão. O encontro motivou uma ação concreta em que os alunos recolheram alimentos não perecíveis equivalentes a um mês sem fome para 15 famílias. Os estudantes, também, participaram do Concurso de Ensaio e Vídeo de Anne Frank, proposto pelo Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados, em que a aluna Júlia Duarte chegou como finalista.
Questões migratórias
As questões migratórias envolvem grandes países desenvolvidos atualmente. Próximo do Brasil, a Venezuela atravessa, há cerca de seis anos, uma das maiores crises de sua história. Motivados pela escassez de insumos básicos para sobrevivência, insegurança, falta de serviços de saúde e até carência de medicamentos, mais de 3,4 milhões de venezuelanos já deixaram o país segundo Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR). Sem recursos para se reestabelecer de forma independente, eles contam com a ajuda de ONGs e projetos sociais do governo. Em Belo Horizonte, uma das maiores instituições que acolhe e apoia refugiados é o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR-BH). Somente no ano passado, foram cerca de 1.900 auxiliados.
Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR-BH)
A instituição existe há 50 anos e é ativa em 56 países. Chegou ao Brasil em 2003, com um programa de reassentamento de refugiados em parceria com as Nações Unidas. Cerca de dez anos depois, Belo Horizonte recebeu sua primeira sede que, atualmente, conta com oito profissionais e quinze voluntários. Ao todo, já foram mais de 4.775 pessoas atendidas. A capital mineira conta com duas casas de passagem e o atendimento a venezuelanos representa 20% do total. O programa consiste em alimentação e moradia por três meses, seguida de auxílio pela busca de um emprego. No intervalo do Loyola Rock Festival, a assessora jurídica do SJMR-BH, Thamara Machado, contou aos convidados detalhes da assistência oferecida aos migrantes que buscam apoio da organização.
Preferências Apostólicas da Companhia de Jesus
Em fevereiro de 2019, em Roma, na Itália, foram promulgadas quatro Preferências Apostólicas Universais da Companhia de Jesus, que serão o novo horizonte do corpo apostólico e o ponto de orientação em sua missão pelos próximos dez anos (2019-2029). A Segunda Preferência Apostólica Universal é “Caminhar com os pobres, os descartados pelo mundo, os vulnerados em sua dignidade, numa missão de reconciliação e justiça”. A realidade dos migrantes e refugiados insere-se nessa dimensão.
Saiba mais sobre as Preferências Apostólicas da Companhia de Jesus
Mensagem do Papa para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2019
No dia 27 de maio de 2019, o Papa Francisco divulgou uma carta para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2019 que será celebrado no dia 29 de setembro de 2019. Com o tema, “Não se trata apenas de migrantes”, ele ressalta que interessar-se por eles e pelos menos favorecidos é interessar-se por todos nós, enquanto sociedade.
O Loyola Rock Festival irá destinar 75% da renda referente à venda de ingressos, aproximadamente R$1700,00 ao Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados.