No dia 01 de junho, aconteceu um novo momento de formação exclusivo para a comunidade educativa da RJE e reuniu cerca de 160 educadores. O encontro virtual tratou do tema “Avaliação da aprendizagem: reflexões sobre a aplicação em formato remoto” e foi idealizado e apresentado pelo Comitê Currículo da Rede. Fazem parte do Comitê os educadores: Ana Loureiro, Daniel Accioly e Pe. Tárcio do Colégio Santo Inácio (RJ), Claudia Miranda do Colégio Medianeira (PR), José Teixeira (Zelão) do Colégio Antônio Vieira (BA), Maria Margareth do Colégio Diocesano (PI) e Paulo Henrique Cavalcanti do Colégio dos Jesuítas (MG).
A ideia da realização da webinar surgiu a partir da reação dos diretores acadêmicos à postagem de uma decisão do governo argentino em não computar as notas de avaliações das instituições educativas daquele país. Para o comitê, era necessário trazer o assunto para a reflexão de todos como rede, já que falar sobre avaliação da aprendizagem, é tratar do currículo em seu sentido mais abrangente.
Coordenadora do comitê e Diretora Pedagógica do Colégio Santo Inácio do RJ, Ana Loureiro, partilha quais objetivos da webinar: “Primeiramente, olhar o tema como um dos elementos mais desafiadores e instigadores do cotidiano escolar, e darmo-nos conta de que avaliar a aprendizagem já se apresenta dessa forma presencialmente, mas que se intensifica em tempos remotos. Apresentar também princípios norteadores da avaliação da aprendizagem, indicando a necessidade de que tenha caráter diagnóstico, formativo e processual. E que quando tratamos de formar integralmente, há valores que necessitam ser contemplados, como a justiça e o caráter ético da avaliação”, resume.
No contexto de uma fala sobre a avaliação num cenário da pandemia, é necessário voltar a alguns princípios e fundamentos da educação jesuíta e da pedagogia inaciana, a fim iluminar nosso entendimento e nossa prática avaliativa. Não se trata, então, de se falar tanto da avaliação de aprendizagem, mas como a avaliação integra o processo formativo na interface entre o ensino e a aprendizagem. Ao se falar de avaliação somos remetidos à estreita relação entre a Espiritualidade Inaciana e a Pedagogia Inaciana.
Coordenador da Formação Cristã do Colégio dos Jesuítas e integrante do comitê, Paulo Henrique Cavalcanti, relembra um episódio importante da Rede: “No lançamento do PEC (Projeto Educativo Comum), em 2016, nos perguntávamos, conforme consta na autobiografia de Santo Inácio de Loyola: que nova vida é esta que agora começamos? Parafraseando para este nosso tempo, poderíamos nos perguntar ‘que vida é esta que agora estamos vivendo? Que escola é esta que fomos levados tanto quanto possível a instituir? E que avaliação é necessária-possível constituir para este tempo de COVID-19?’. A resposta a essas perguntas precisam considerar um elemento constitutivo do modo de ser e proceder inaciano, o discernimento. Para isso é imprescindível que nossa avaliação considere a busca inaciana por uma excelência acadêmica e humana, que é nossa forma de traduzir o sentido do Magis em educação”, considera Paulo Henrique.
A avaliação na Pedagogia Inaciana
A Pedagogia Inaciana não é prescritiva. Não há fórmulas prontas ou modelos acabados e que poderiam ser implementados de modo replicado nos mais variados contextos. De acordo com o Pe. Klein a Pedagogia Inaciana é “atitude, mentalidade e enfoque’, um modo de proceder contínuo que, mantendo a inter-relação de professor, aluno e matéria, ilumina o planejamento e a realização de qualquer atividade formativa, seja atividades em classe, teóricas e práticas, de qualquer disciplina, seja extra-classe: esportivas, culturais, religiosas, de serviço social…” (Klein, 1997a: 131). Entende-se a avaliação como uma das dimensões do Paradigma Pedagógico Inaciano.
A pedagogia inaciana pensa a avaliação como um processo de exame reflexivo sobre a prática pedagógica (metodologia, meios, estruturas, ensino e aprendizagem) em busca da magnanimidade. Sendo a quinta etapa do paradigma pedagógico inaciano é a conclusão de um ciclo e o início do outro, uma vez que oferece novos dados e informações, que se tornam insumo e abrem para um novo contexto. Nesse sentido, trata-se de uma avaliação contextualizada. Por isso, falar de avaliação em tempos de pandemia à luz da tradição educativa jesuítica requer considerar: tempo, espaço e pessoas.
Para refletir sobre a Avaliação na Pedagogia Inaciana recomenda-se a referência do texto: Pedagogia Inaciana. Uma proposta prática – nos números 63 a 67. Neste documento se responde às questões: O que se entende por “avaliação” no ensino e aprendizagem? Por que a “avaliação” é importante para o ensino e aprendizagem? Como levar o aluno à “avaliação” na aprendizagem? O que não é a “avaliação” no sentido da pedagogia inaciana?
Um trecho do documento diz que a avaliação consiste na “tomada de consciência dos educadores e dos alunos do progresso que estes realizam na aquisição de conhecimentos e no seu crescimento integral”. Ora, ao se falar de avaliação nesta perspectiva rompe-se com a visão de prestação de contas a partir de uma quantificação em forma de nota. Nesse paradigma, a avaliação é um processo e não um episódio. Por isso, fala-se de avaliação em termos de diagnóstico. O objeto de avaliação é o processo do trabalho pedagógico realizado através do ensino e da aprendizagem. Nesse sentido, professores e estudantes são sujeitos da avaliação e não seu objeto. Avalia-se neste modelo também os meios colocados à disposição do processo, envolvendo estruturas humanas e materiais, didática – no sentido das teorias e práticas que aportaram a operacionalização do trabalho pedagógica. Esse processo avaliativo ao modo de diagnóstico levanta informações relativas ao todo do processo do trabalho pedagógico. As mediações ou instrumentos que serão usados, bem como o seu enfoque – qualitativo ou quantitativo necessitam considerar tempo, espaço e pessoas. Ao integrar a avaliação na dinâmica do trabalho pedagógico que ocorre no ensino e na aprendizagem, a Pedagogia Inaciana favorece a qualificação e a melhoria do processo formativo neste contexto atípico.
Finalizando a reunião, Ana Loureiro destaca outro objetivo do momento formativo: demonstrar que os colégios Jesuítas têm fundamentos teóricos em sua origem que nos ajudam em tomadas de decisão. Os documentos sobre educação da Companhia de Jesus e a Pedagogia Inaciana, assim como a prática cotidiana do discernimento, nos dão subsídios e fundamentos para a construção de métodos e ferramentas de avaliação que revelem a concepção de mundo, pessoa e educação presentes em seu currículo.