Na perspectiva de uma pedagogia de inspiração inaciana e, portanto, da educação jesuíta educação mais escolarização (educação + escolarização) funde-se em binômio amalgamado, ao invés de educação versus escolarização (educação x escolarização) que não parece ser o caminho.
Portanto, pensar educação e escolarização é colocar em pauta uma reflexão a respeito das intencionalidades, dos horizontes de expectativas, das visões de pessoa e de mundo a que se filia, das pautas, dos interesses e das finalidades que levam pessoas, instituições e organismos a se constituírem enquanto escola.
Essa é uma questão que parecia superada mas que, na esteira de retrocessos como tantos outros que se tem vivido nos tempos atuais em se tratando de políticas públicas , precisa ser recolado urgentemente num debate que coloca a todos diante de um forte questionamento: quais interesses estão em jogo quando se reduz a educação à escolarização?
A escola enquanto mediação da formação em valores é intuição e inspiração fundantes do engajamento da Companhia de Jesus na educação formal, popular e informal, na educação básica ou no ensino superior, desde os primórdios e origens, ainda no tempo de Inácio e dos primeiros companheiros.
O critério de discernimento dessa ação educativa e que legitima uma obra de apostolado educativo é o tanto quanto está a serviço da missão de forjar homens e mulheres a serviço dos outros, segundo Arrupe , atualizado por Sosa e o de formação de líderes conscientes, competentes e comprometidos na compaixão, segundo Kolvenbach, atualizado na declaração final do SIPEI.
Escolarização é insuficiente para compreender a educação jesuíta assim como a educação jesuíta não será reconhecida nos limites de uma escolarização. Dessa problematização se poderá concluir que a missão apostólica da Companhia de Jesus no campo educativo é um fazer-se escola dinâmica e permanentemente, na busca de respostas e saídas para os desafios e mudanças de cada tempo, inspirados na pedagogia de Jesus.
Reconhecidamente, a humanização das pessoas é o marco referencial de uma pedagogia jesuíta de inspiração inaciana. O processo de formação de pessoas segundo essa perspectiva prenuncia um arcabouço sofisticado: o da formação integral, que por sua vez e na clara compreensão institucional articula as dimensões cognitiva, socioemocional e espiritual-religiosa nos mesmos graus de importância e relevância
Uma formação integral tem em perspectiva a formação de valores, em valores e consequentemente para valores de tal modo que será formação “para” apenas e somente na medida em que for “de” e “em”. Formar para valores implica em assumir-se na formação de consciências de adesão aos valores, comprometidos e engajados aos valores enquanto sentido e projeto de vida, eficazmente e para além dos discursos e das declarações fluídas.
Assim como o que se faz, também aquilo que se deixa de fazer na escola é declaração de intencionalidade educativa. Até a aparente falta dessa explicitação é um modo de declaração.
Recentemente, a Companhia de Jesus indicou aos seus colégios a mais forte declaração de suas intencionalidades em fazer da estratégia escolar a sua missão de educação: o documento Colégios Jesuítas, uma tradição viva no século XXI.
Essa declaração de identidade articula-se a um ciclo iniciado com a precursora e profética alocução “Nossos Colégios Hoje e Amanhã” de Pedro Arrupe, a sistematicidade ocorrida com a publicação de Características da Educação da Companhia de Jesus, a organicidade pragmática de Pedagogia Inaciana, uma proposta prática e a mais recente formulação de prioridades em Preferências Apostólicas Universais (2019).
Em Colégios Jesuítas, uma tradição viva no século XXI, há uma clara e inequívoca explicitação, como nunca havido antes, de que a Companhia de Jesus se compreende, em sua ação nos colégios, desde a fusão escolarização-educação, na humanização engajada das pessoas, numa perspectiva integral.
Ali há uma saída e ampliação dessas possibilidades da educação jesuíta ao se fazer a opção por identificadores. Essa categoria que suplanta a visão de indicadores advindas do mundo corporativo e que foram trazidos por organismos de mercado para o universo das políticas públicas.
No elenco dos dez identificadores, os dois últimos, como que fazendo a síntese dos oito anteriores, deixam claras as intencionalidades da Companhia de Jesus ao fazer educação escolar:
[…] 9) Os Colégios Jesuítas estão comprometidos com a Excelência Humana;
10) Os Colégios Jesuítas estão comprometidos com a aprendizagem para toda a vida.
Os conceito de excelência humana e aprendizagem para toda vida são declarações que vinculam os colégios jesuítas como escolas que educam desde a perspectiva da formação integral, cujo foco é a humanização das pessoas.
A partir daqui se poderá recuperar e potencializar, em resposta aos desafios do momento presente, a intuição original da Companhia de Jesus de fazer da educação escolar um caminho de estar a serviço da salvação das ‘almas’, “[…] desejando e escolhendo apenas o que mais nos conduzir ao fim para que fomos criados”: “[…] louvar, reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor”, buscando na pedagogia de Jesus sua fonte inesgotável de inspiração.
Agripa Mairink
Assessor deFormação Cristã
Colégio Loyola – Minas Gerais