A empatia exige um movimento que nos conecta com o que é externo, e que o faça profundamente
“Um samaritano, que estava viajando, chegou perto dele [um homem quase morto por causa de um assalto], viu e teve compaixão. Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal, e o levou a uma pensão, onde cuidou dele.” (Lc. 10, 25-37)
A empatia se colocou em evidência dentro de diversas esferas de nossa sociedade, devido à necessidade, cada vez mais urgente, de compreender como o outro pensa, conhece o mundo e se relaciona com ele, de forma individual e coletiva. Por esse motivo, ela surge como elemento-chave dentro de processos que estimulam a formação de pessoas em todo tipo de ambiente, como o educativo e o corporativo.
A empatia potencializa o sentir e o agir, dessa maneira, mais do que um valor que possa ser demonstrado em uma tela ou lousa, é uma atitude que se aprende na convivência e no contato contínuo com ela. A partir desse ponto, a empatia compreende-se como um movimento, um sair do local onde nos encontramos (não necessariamente geográfico, mas também existencial) para ir ao encontro do outro.
Muitas vezes, escutamos a frase: “empatia é se colocar nos sapatos do outro” e ela se torna adequada, pois o significado etimológico vem do grego “empatheia”, que significa “levar para dentro um sentimento alheio”. Porém, a empatia, além de nos colocar no lugar do outro, nos leva a reconhecer que esses “sapatos” não são nossos, mesmo após termos feito alguma reflexão, avaliação ou juízo de valor interno. Com isso, se reconhece a situação pela qual o outro está passando, mas essa situação continua sendo do outro.
Parece uma ação fácil, mas, na verdade, esse movimento demanda uma capacidade madura, para conhecer nossos próprios sentimentos e nossas próprias ideias, a fim de entender os sentimentos e as ideias dos outros. Isso implica um movimento profundo de autoconhecimento e discernimento para distinguir os “sapatos” do outro do sentimento vazio da indiferença.
A empatia é uma habilidade que se torna indispensável em um mundo veloz como o nosso, globalizado e com mudanças drásticas. Exige um movimento que nos conecte com o que é externo, mas que o faça profundamente. A passagem bíblica do início desse texto ilustra como a verdadeira empatia surge pela observação atenta de horizontes abertos, que produz uma reação transformadora no indivíduo, concedendo bem-estar não só para quem “sentiu compaixão”, mas também para quem estava sofrendo, para quem viu, para quem hospedou, para quem teve contato posteriormente.
Assim, consideramos que empatia vai sempre de mãos dadas com a solidariedade e com a esperança. Solidariedade para sermos agentes da transformação e mudarmos a realidade que gerou em nós a empatia; e esperança para continuarmos acreditando em um mundo melhor, que se constrói dia após dia.
Considerando esses elementos e tornando-os linhas de ação, o projeto pedagógico do SANFRA envolve ferramentas e metodologias que intensificam o contato dos nossos alunos com esse valor tão importante. A nossa compreensão de educação deixa de ser apenas uma formação para a vida e, a partir da realidade, torna-os capazes de encontrar o sentido daquilo que aprendem. Ao final, como dizia John Dewey, “as crianças não estão, num dado momento, sendo preparadas para a vida e, em outro, vivendo”, é uma realidade única.
No Colégio São Francisco Xavier compreendemos a educação como um processo que desenvolve sujeitos autônomos, responsáveis consigo mesmos, com os outros e comprometidos com a construção de uma sociedade melhor. Portanto, a formação integral de seres humanos compassivos, competentes, conscientes e comprometidos ganha predileção no processo de ensino do SANFRA, colocando os conteúdos e elementos cognitivos a serviço desse objetivo e fomentando um vínculo entre o educador e o educando, que lhe permite desvendar aspectos até então desconhecidos e ter contato com habilidades que lhe concedam viver melhor consigo mesmo e em sociedade.
Buscamos que a empatia ocupe um lugar central em nossa concepção de educação, orientando as nossas ações pedagógicas para que o diálogo que a sustenta se baseie no reconhecimento permanente do outro. Acreditamos que a empatia é o movimento necessário em nossos dias para legitimar o valor do diálogo, da aquisição de habilidades e competências, da promoção da paz, da justiça e da transformação social.
Sobre o autor
Este artigo foi produzido por Fernando Damián Cruz López, coordenador de Formação Cristã e Pastoral do SANFRA, Bacharel em Teologia e Licenciado em Pedagogia e foi publicado originalmente no site da FLACSI (Federação Latino-americana de Colégios da Companhia de Jesus).
Referência bibliográfica:
PEC, Projeto Educativo Comum. Rio de Janeiro: Edições Loyola, 2016.
YIRULA, Carolina Prestes (Org.). A importância da empatia na educação. São Paulo: Instituto Alana, 2016.