Pela primeira vez, o V Encontro de Formação Integral (EFI) da Rede Jesuíta de Educação ofereceu aos participantes a possibilidade de pensar o seu Projeto de Vida no percurso de todo o Encontro e possibilitou a articulação de diferentes atividades.

Quando falamos de Projeto de Vida (PV), as primeiras perguntas que surgem são: Quem sou eu? Onde estou? Para onde vou? Quem estará comigo? Essas perguntas estão presentes o tempo todo. Pensamos, então, em ajudar os(as) nossos(as) alunos(as) a encontrar ou construir as suas respostas com o próprio Mundo de Sentido. Vale ressaltar que o caminho para o Mundo de Sentido é o coração, sendo fundamental olhar para ele e olhar-se nele, onde estão contidos os seus sentimentos, as suas experiências, os seus sonhos, o seu Projeto de Vida.

No Novo Ensino Médio, a proposta do Projeto de Vida está para além de uma busca profissional. O PV irá contribuir para o autoconhecimento e desenvolvimento de habilidades socioemocionais e espirituais-religiosa.

Projetar a vida é compreender que somos responsáveis por nossa própria transformação, guiados pela sabedoria que nos rege e nos mostra que a vida vai se transformando e sendo recriada a cada experiência.

“Mire, veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão.” (Guimarães Rosa)

Desde o planejamento, nossa preocupação era fazer com que a reflexão sobre o Projeto de Vida no EFI fizesse sentido para a vida de nossos alunos. Por isso, pensamos em oferecer-lhes um itinerário de provocações, com o objetivo de ajudá-los a pensar sobre seu Projeto de Vida no cotidiano da própria vida depois do EFI e, ao mesmo tempo, propor um método para que isso fosse possível. Criamos um itinerário composto por três encontros que foram distribuídos entre as atividades do EFI. A proposta foi de que, em cada encontro, os nossos alunos experimentassem a interrupção do tempo cronológico para entrar no tempo da vivência humana e espiritual. O tempo cronológico é interrompido para que você olhe para dentro de si mesmo. Você escolheu pensar na sua vida de um modo diferente. Para nós, era importante que os alunos se permitissem fazer essa experiência. É necessário parar, refletir e discernir com maior profundidade nossa vida antes de dar continuidade a nossa caminhada. Isso fez do itinerário do Projeto de Vida não apenas um processo objetivo, mas, sobretudo, um caminho vivencial.

“Não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear internamente as coisas.”

(Exercícios Espirituais de Santo Inácio, anotação 2)

Todos os dias, a vida provoca-nos por meio de diversos acontecimentos que nos afetam interiormente, que marcam o nosso coração. Eles nos afetam com tudo o que neles possa estar incluído: pessoas, gestos, ideias, símbolos, discursos. Alguns não nos causam marcas significativas, outros podem nos marcar profundamente, provocando emoções e sentimentos intensos, esses são os que chegam a atingir o nosso coração, a nossa alma. A experiência de ser marcado por um acontecimento faz surgir em nós a necessidade de dar sentido ao que nos marcou. A experiência de dar sentido é vivenciada como linguagem, como narrativa, como palavra. A totalidade dos acontecimentos com sentido formam o que chamamos de Mundo de Sentido. A partir dele, cada pessoa elabora conexões complexas para responder àquelas perguntas fundamentais, exteriorizando o sentindo elaborado dos acontecimentos que foram interiorizados, interpretando a si mesmo, a sua relação com os demais e com o mundo.

“Se me perguntarem como estou, eis a resposta: Estou indo. Sem muita bagagem. Pesos desnecessários causam sempre dores desnecessárias. Esvaziei a mala, olhei no fundo dela, limpei, e estou indo…preenchê-la com coisas novas. Sensações novas, situações novas, pessoas novas. Tudo novo.” (Caio Fernando Abreu)

Notamos a necessidade da exteriorização do Mundo de Sentido, de modo a sentir e perceber que Projetar a Vida é tomar a sua vida pela mão. Compreender e ver os caminhos.

Com abertura para novas experiências, ânimo e generosidade, nós podemos buscar um Mundo de Sentido para além daquele que nos determina hoje, que expresse mais sistematicamente os nossos desejos de esperança, que nos ajude a fazer escolhas que nos comprometa com belas e justas causas que dão um sentido mais humano para nossa existência. Nesse sentido, elaborar o Projeto de Vida é pensar sobre um Mundo de Sentido possível que oriente as nossas escolhas, para que sejam as melhores escolhas.

Na espiritualidade inaciana, as melhores escolhas são as que estão direcionadas para Maior Glória de Deus, isto é, as que estão orientadas para a promoção de nossa vida, da vida de outras pessoas, principalmente dos mais empobrecidos e da vida do planeta, nossa Casa Comum.

Dimensão Espiritual do Projeto de Vida no EFI

Os alunos receberam, como material de pedagógico, um Caderno de Vida e a Mandala dos Sentimentos que os acompanharam nos momentos dos encontros do Projeto de Vida. Eles foram elaborados pensando nos três tempos: tempo da criação, tempo da revelação e tempo da redenção. Na Mandala dos Sentimentos, os alunos, em cada encontro, eram motivados a buscar palavras geradoras que pudessem expressar os sentimentos presentes, como: medo, sonhos, dons, identificação, futuro, distância, proximidades, desafios.

Já o Caderno de Vida era um apoio para os registros de cada etapa, pensando na construção do seu Projeto de Vida. Assim, os alunos foram motivados pelas reflexões:

O tempo parou porque você permitiu isso!

O tempo parou porque você desejou olhar para dentro de si mesmo. Você escolheu pensar na sua vida de um modo diferente. O mais importante, você se permitiu. 

O coração que caminha no meio de nós, todos os dias, é o seu coração. Olhe para ele, olhe-se nele. Nele estão contidos todos os seus sentimentos, nele estão contidos os seus sonhos, o seu projeto de vida. 

Reflita para discernir as possibilidades: o que eu quero? O que busco? Por que estou aqui? 

Nossa vida é um projeto divino. As escolhas que muitas vezes fazemos são frutos desse amor que é divino. Você tem se permitido a esse amor? 

É importante passarmos por um caminho para pensar o nosso projeto de vida. Vamos parar o tempo para começar e recomeçar quantas vezes forem necessárias. 

O tempo do relógio não existe ou não deve importar para quem está em constante construção e compreensão do seu projeto de vida. 

Quando penso em minha vida, consigo entrar no 1º tempo que é dedicado à criação. Questione: quem sou eu? Por que estou aqui? O que Deus desejou para mim? 

Pensando no próximo tempo que é o tempo da revelação, perguntamo-nos como estamos nos relacionando com a criação. O que tenho feito das minhas relações com os outros, com a natureza e com Deus? 

E agora, o que farei? Para onde vou? Como tenho me relacionado com a sociedade da qual faço parte? Este é o tempo da redenção. Olhe para fora, antes de julgar, pense como você poderá transformar as realidades sociais com o seu projeto de vida. 

A espiritualidade inaciana é o que nos motiva a trazer as memórias de tudo que dá o tom em nossa vida. 

Pergunto a você, está disposto(a) a tomar a sua vida pela mão e a construir um itinerário que o permitirá conhecer-se e compreender o sentido da sua vida? Comece pensando no tempo que você tem se dedicado.

“Sem que eu soubesse, começava uma viagem que iria matar certezas da minha infância. Os ensinamentos da escola, os conselhos do pastor Afonso, os sonhos de Surendra: tudo isso iria esvair na dúvida. Me olhei, e me vendo leve, sem carga, lembrei as palavras de meu pai: – Quem não tem amigo é que viaja sem bagagem.” (Caio Fernando Abreu)

Melissa Misiuk de Castro – É professora, possui graduação em Pedagogia, especialização em Iniciação à Vida Cristã pela Faculdade Católica de Santa Catarina (Facasc), especialista em Pedagogia Inaciana pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Graduanda no curso de Neurociência na PUC/RS. Atualmente é professora de Projeto de Vida no Novo Ensino Médio e Orientadora Pedagógica no Colégio Catarinense, em Florianópolis, Santa Catarina.

Thadeu da Silva Souza – É jesuíta, possui graduação em filosofia pelo Centro Universitário da Fundação Educacional Guaxupé (Unifeg) e mestrado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). Desenvolveu pesquisas na área de ética no programa de pós-graduação em filosofia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), em Belo Horizonte. Atualmente trabalha no Colégio São Luís, em São Paulo.