A adolescência traz inúmeras dúvidas e angústias. Qual é o papel da escola neste processo? Quais são os pontos que devem chamar a atenção? Como ajudar os estudantes? Confira, abaixo, o artigo da orientadora educacional do Colégio Anchieta, de Nova Friburgo (RJ), Karen Arrudas de Castro:
O ser adolescente e suas muitas vertentes
Muito se fala, e por vezes até de forma intolerante, a respeito do adolescer e as angústias vindas desse processo de desenvolvimento. Formar e educar um adolescente não é tarefa fácil, no entanto, é certo que ser adolescente também não é.
Por isso, alguns aspectos importantes precisam ser considerados.
O primeiro dele diz respeito a racionalização. Por serem seres ainda em desenvolvimento neural, as questões relativas ao equilíbrio, reflexão e raciocínio ainda não alcançaram a maturidade necessária para escolhas assertivas. Sendo assim, são seres intensos e pensantes, mas que precisam de auxílio para refletir, principalmente, sobre a dosagem dos seus atos, e os efeitos que os mesmos podem causar a si e aos outros a sua volta.
Outro ponto a considerar é sua interação social e vínculos. Talvez, a adolescência seja momento de maior choque geracional vivido nas fases de desenvolvimento do sujeito. Com isso, há uma necessidade enorme de se sentir pertencente a um grupo, e os grupos familiares não são mais o que eles buscam como referência, sobretudo por esse processo de transição.
Por isso, a adolescência torna-se uma fase de muita vulnerabilidade para eles. Com essa busca de pertencer e ser aceito por um grupo que não o seu de origem, o que gera uma crise de identidade (Qual o certo a fazer? Com o que me identifico? Em que grupo me encaixo?), são capazes de se sujeitar a coisas que escapam aos seus valores e princípios para não ser excluído. Drogas, bebidas e opressão aos diversos podem surgir como forma de agir, dependendo do grupo em que estão inseridos, exatamente por sentirem medo da opressão de não pertencer.
Outro aspecto a ser considerado é a mudança corporal e seus impactos na vida dos nossos adolescentes. São nítidas (e rápidas) suas mudanças corporais. Os hormônios, somados à essas mudanças, as novidades e os questionamentos dos mesmos são ponto de atenção aos educadores e familiares que os acompanham. É aí que surgem as curiosidades sexuais, os questionamentos em relação aos desejos, ao que ser ou não ser, as descobertas de novas sensações no corpo e na mente, e sobre isso, uma sensação de por vezes não ser compreendidos pelos responsáveis. Os adultos, por tantas convicções, questões culturais, geracionais e de valores, por vezes tendem a silenciar alguns apontamentos dos seus filhos por medo de ferir tais convicções, o que os limita a pensar suas enormes possibilidades de ser e existir no mundo. Há uma tendência a limitar a profissão que deve escolher, o perfil de parceiro(a) a se relacionar, o grupo de amigos a que se integram, entre outros aspectos, e isso por vezes distancia esse adolescente de seus familiares por insegurança, e medo de retaliação.
Diante de tantas mudanças na vida do adolescente, tantos questionamentos em relação aos seus grupos, a principal ferramenta que possibilite uma relação saudável com eles é o diálogo. Que tal conversar, expor os pontos de vista, falar sobre os assuntos em pauta, e principalmente, escutar o que o adolescente tem a dizer? Eles têm, sempre, muito a dizer sobre sua existência, suas convicções e medos, e cabe a nós dar a eles espaço para expor suas ideias e dialogar.
A permissão ou negativa diante das demandas adolescentes, sem um contexto, se tornam vazias e difíceis de assimilação para eles, por isso, contextualizar seus argumentos, ouvir o argumento deles e equilibrar as respostas a partir daí é parte do que pode, sem dúvida, tornar a vida desses meninos e meninas muito mais saudável, e contribuir, é claro, para a formação de um sujeito pensante, convicto e com uma capacidade de consciência que o tornarão um adulto brilhante, pode ter certeza.
Artigo publicado no site do Colégio Anchieta (RJ).