Por Karen Arrudas de Castro, orientadora educacional do Colégio Anchieta
Quando pensamos no desenvolvimento infantil, suas fases e construções, somos imediatamente remetidos aos momentos de aprendizado dos pequenininhos. Os primeiros passos, as primeiras palavras, as primeiras descobertas, a primeira palavrinha escrita e tudo mais que faz parte desse universo de descobertas do infantil. No entanto, a brincadeira é algo próprio da infância, e por vezes passa despercebido diante de tanto estímulo.
Criança brinca o tempo todo, brinca com comida, brinca com partes do corpo, brinca consigo, brinca com o outro. Brinca com uma infinidade de brinquedos que lhes são fornecidos, mas também com sucatas e materiais descartados, quando em uma realidade mais limitada de recursos. Seja como for, ela sempre encontra formas de brincar. E que bom!
Nos atos de brincar construímos indivíduos criativos e conscientes. Quando ainda não tem possibilidade de falar, ela brinca como forma de comunicação e interação com o mundo. Quando em sofrimento, brinca para “verbalizar” suas angústias e construir novas histórias e direcionamentos para sua realidade, tudo isso para formar-se enquanto sujeito. O brincar pode ser visto como uma liberdade de criação, e nela, incluímos música, ritmo, criações, recriações, experiências sensoriais, entre outras ferramentas.
Uma outra característica própria do brincar para a infância, é a forma como inicia a criança na interação social e vivências de grupo. A criança desde muito nova, inicia-se na brincadeira de forma individual, recusando qualquer tipo de interferência externa ao que está sendo construído por ela. Aos poucos, as formas de brincar vão se modificando, e ela permite e aprende a compartilhar suas vivências com adultos e outras crianças. É também nessa transição que é possível ensinar as crianças sobre regras, pensamento coletivo, senso de justiça e um pouco das habilidades sociais que carregará para sua vida. Mas é claro, tudo isso de forma gradativa.
Uma grande questão atual, que tem sido tema de diversas pesquisas ao longo do mundo, trata-se das ferramentas digitais e a interferência delas no desenvolvimento de nossas crianças. Uma coisa é certa, e motivo de atenção, todo excesso esconde uma falta, por isso, é preciso cuidar do tempo de exposição tecnológica das crianças para que isso não prejudique seu desenvolvimento como um todo.
Sabendo da importância da brincadeira no desenvolvimento infantil, e o quanto ela tem relação com a formação integral das crianças, sobretudo em seu desenvolvimento socioemocional, é preciso começar a valorizar e dar a devida importância a tais momentos lúdicos, que por vezes as crianças, por excesso de atividades, acabam perdendo.
Quando um pai se debruça diante dos brinquedos com seu filho, e se permite imergir em seu universo, esse pai está se permitindo ouvir as construções de vida que seu filho tem feito. É no faz de conta que a criança constrói sua história, e é preciso estar atento e com a sensibilidade aguçada para fazer parte desse mundo tão rico.
Por isso, reserve um tempo do seu dia, deixe suas obrigações de lado, e aprenda com as crianças como é viver em um mundo colorido, rico e cheio de possibilidades. Ensinamos muito às nossas crianças, mas elas também têm muito a nos ensinar, só precisamos nos permitir aprender.
Fonte: Colégio Anchieta (RJ)