Não ao bullying e à violência nas escolas

O bullying é uma situação caracterizada por agressões intencionais, feitas de maneira repetitiva por um ou mais indivíduos contra uma ou mais pessoas. A palavra vem do inglês, bully, que significa valentão ou brigão. Mesmo sem uma denominação em português, é entendido como uma ameaça, humilhação e intimidação.

O Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência nas Escolas foi criado pela Lei de nº 13.277 de 2016. No dia 07 de abril de 2011, um jovem de 23 anos, que sofria bullying na infância, entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, no Rio de Janeiro (RJ), matou 12 crianças e feriu outras 20. 

Na entrevista abaixo, a Psicóloga Educacional do Colégio Santo Inácio, de Fortaleza (CE), Luyza Gurgel, fala sobre a importância da parceria entre as instituições de ensino e as famílias na prevenção do bullying e do ciberbullying.

1. Qual é a importância da criação do Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência nas Escolas?
Esse dia é para lembrar de como a violência burla o direito da criança e do adolescente da saúde e do bem-estar. É uma data para que a gente recorde de como é fundamental que se desenvolvam programas contínuos dentro das escolas e junto das famílias, e que não seja só no dia 07 de abril, mas ao longo do ano inteiro, que possa fazer parte do currículo das escolas.

O dia é importante para ensinarmos os estudantes como solucionar os seus conflitos sem violência. Ele vai fazer referência, memorar uma data, e que ela possa trazer a cada ano mais políticas públicas, mais desenvolvimento de programas, que seja uma conscientização de forma geral da necessidade de que esse tipo de violência não ocorra, de forma alguma, nas escolas. É um momento de trazer para as escolas a possibilidade de mais diálogo, debates entre os adolescentes e as crianças, de como eles estão vendo a resolução dos conflitos atualmente, principalmente com a inserção massiva deles nas redes sociais. Precisamos ouvi-los, porque esse lugar de não-escuta é o que leva a esse tipo de violência.

2. Qual é a importância do trabalho das escolas na prevenção de conflitos?
A escola desenvolve um papel fundamental na formação das crianças e dos adolescentes e deve ter no currículo, desde a Educação Infantil ao Ensino Médio, ações que possam reconhecer as suas vulnerabilidades e fragilidades emocionais e que exista um lugar eficaz de fala sobre o que estão sentindo e de identificação das emoções. Com a adoção de ferramentas de resolução de conflitos na escola, à medida que ela vai se desenvolvendo, atenua muito a capacidade de uma pessoa ir para um ato de violência. 

O ato de violência vem de uma total incapacidade de ser visto, de ser conhecido, de não ter sido acolhido nas suas emoções, nas suas dificuldades e nas suas fragilidades. A escola trabalha os pertencimentos de todos os grupos em suas diferenças e igualdades. Gosto de citar uma frase que o escritor José Carlos Libâneo coloca sobre a escola. Ele diz que a escola é um lugar de encontro e compartilhamento entre as pessoas, para que sejam acolhidos os seus ritmos e as suas diferenças. A escola representa, como instituição, para essa criança e esse adolescente, um espaço de relevância no desenvolvimento e na formação da existência dela. É um espaço importante de convivência e de aprendizado, que vai contribuir para que se relacionem, adquiram valores e crenças, senso crítico, autoestima e segurança.

Também é um lugar de troca, de escuta sensível, da construção de valores positivos, de um estímulo à convivência pacífica, da afetividade, de projetos que possam ser para e pela paz na consolidação dessas relações sociais. Então, a escola deve criar uma cultura onde a criança sabe que ela é acolhida, independente de quem ela é. Muitas vezes, essa criança passa a maior parte do tempo na vida dela na escola;  é lá que ela vai formar grupos diferentes do núcleo familiar e que ela vai saber as diferentes interações sociais.

3. Como prevenir o bullying e a violência no ambiente escolar?
A prevenção precisa ser feita a longo prazo no processo educacional e tem que ser parte integrada ao currículo. O bullying e o cyberbullying estão regulamentados e as leis pedem ações imediatas. À medida que a criança for desenvolvendo e puder compreender que isso não é aceitável socialmente, que tem suas consequências, é importante que isso seja apresentado, da mesma forma como apresentamos qualquer outro comportamento que é regulamentado e não é aceito. Então, prevenir agora, em tempos de existência digital, é fundamental. 

Podemos organizar reuniões, assembleias com os estudantes, com as famílias e com os colaboradores da comunidade, na intenção de realizar um diagnóstico inicial e construir um plano de ação anual com atividades que façam parte do currículo de forma interdisciplinar, como rodas de conversa interativas e espaços e tempos de reflexão, escuta empática e diálogo. 

A intenção é construir uma cultura da paz, desenvolvimento de valores e convivência para o ambiente escolar, um local cooperativo, nos quais os conflitos precisam ser tratados e resolvidos de forma construtiva, e que assim possa ser ensinado e aprendido novas formas de convivência para o exercício de uma cidadania responsável. O envolvimento dos professores, dos colaboradores e dos familiares é fundamental para a implementação de projetos para a prevenção do bullying. E essa participação de todos visa estabelecer as normas, as diretrizes e as ações coerentes. Todos precisam participar ativamente, se envolvendo em todas as ações.

4. De que forma a família pode ajudar a escola?
A família precisa compreender quais são as consequências desse comportamento, tanto da vítima quanto do agressor, o que é o bullying, o que ele representa, o que ele acarreta. Ela deve estar envolvida, juntamente com a escola, participar ativamente do desenvolvimento do seu filho, acompanhando, dialogando, orientando, estar presente nas ações que a escola promove, ressaltar sempre a importância de debater esses assuntos tanto com a escola quanto com os outros pais.

É necessário identificar sinais de que seu filho possa estar transmitindo. Dentro de casa, deve ser falado sobre o assunto abertamente, com a prevenção dos comportamentos de violência. Muitos de nós, adultos, não sabemos identificar as nossas fragilidades e os nossos lugares de conflitos e, às vezes, exercemos alguns tipos de violência dentro de casa, que pode ser verbal ou até física. O tipo de vivência e interações socioemocionais que temos em família podem ser gratificantes ou não, serão colaborativas na construção dos nossos pensamentos e das emoções das nossas crianças e dos nossos adolescentes. Com isso, a melhor forma será fortalecer o vínculo e a parceria entre a família e a escola e saber que ambas estão do mesmo lado.

Ambiente escolar e sadio para todos

Em todas as Unidades da Rede Jesuíta de Educação Básica (RJE) os estudantes participam de ações, projetos e campanhas com a temática do bullying e ciberbullying. No Colégio Anchieta, de Porto Alegre (RS), por exemplo, as Orientadoras Educacionais Eliane Nunes, do 3º ano, e Marcia Schivitz, do 4º e 5º anos, abordam o assunto na campanha “Bullying Não é Brincadeira”.  A temática é desenvolvida com os alunos de todo o Ensino Fundamental I, mas é a partir do 3º ano que se trabalha, de fato, o bullying, ressaltando a importância da diferenciação entre conflito, briga e bullying. 

Marcia Schivitz, orientadora educacional do 4º e 5º anos do Colégio Anchieta (RS)

Os estudantes têm a oportunidade de dialogar, expressar suas ideias e sentimentos sobre o tema e escrever juntamente com os professores as atitudes mais eficazes para a promoção da Cultura da Paz; este material também é afixado em sala de aula para sempre que precisar, poder recorrer a ele. Queremos, com isso, conscientizar e trazer para os estudantes que suas atitudes são fundamentais para a construção de um ambiente saudável onde todos são importantes. Essas reflexões são os saberes necessários para que cresçam como pessoas, buscando desenvolver características e potencialidades que os tornem agentes de fé, de amor, de engajamento, de saber, de inclusão e de mudanças, visando a uma sociedade mais justa e fraterna”, destaca Marcia.

Eliane Nunes, orientadora educacional do 3º ano do Colégio Anchieta (RS)

Os alunos recebem uma parte da Lei nº 13.185, de 06 de novembro de 2015, que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) e conhecem alguns dos principais artigos da legislação. Depois, em casa, os estudantes conversam com as famílias sobre bullying e registram o que consideraram de mais importante no diálogo e citam três atitudes para cultivar a paz na escola. O fechamento é na sala de aula, com a escrita de um parágrafo coletivo sobre quais ações devem ser realizadas para garantir um ambiente escolar sadio. “Queremos que as famílias tenham conhecimento daquilo que está sendo trabalhado naquela faixa etária.  Temos tido muitos retornos positivos das crianças e das famílias. Eles trazem coisas bacanas que já fazem, como parar e pensar antes de agir, colocar-se no lugar do outro”, completa Eliane.

O Colégio Loyola, de Belo Horizonte (MG), promoveu a Semana de Cultura de Paz, Prevenção e Combate ao Bullying entre os dias 03 e 05 de abril. Os estudantes tiveram diferentes atividades relacionadas ao tema e as famílias participaram de uma roda de conversa com a Orientadora de Aprendizagem em Educação para a Paz sobre “Cultura de Paz, juntos a gente faz”. Ela apresentou perspectivas da Cultura de Paz por meio das Práticas Restaurativas (Justiça Restaurativa) e um pouco do trabalho desenvolvido pelo NEP no cotidiano escolar.

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