Por Glaucia Valéria Bezerra, ex-aluna do Colégio Anchieta, de Nova Friburgo (RJ)
Nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, a pessoa humana é convidada a responder ao amor de Deus, em um exercício que direciona o caminho de relação pessoal com Ele. A busca pela realização da vontade divina, como conversão, o respeito à liberdade ao discernir o que motiva internamente para aceitação de si mesmo, trazendo ordem à própria vida. Assim sendo, o exercício conduz o serviço aos outros, na realidade do mundo, rumo à verdadeira felicidade. Afirma Klein (1999, p.1), “[…] os Exercícios são um itinerário para ajudar a pessoa a identificar e remover todos os impedimentos ao seu desenvolvimento integral, de modo a ouvir os apelos de Deus e a comprometer a sua vida no seu segmento.”
Os Exercícios Espirituais movem o indivíduo a participar com a imaginação do encontro perfeito com os textos Sagrados. Desta forma, a importância dentro da proposta dos Exercícios Espirituais em aplicar a imagem e o repertório imagético para que as experiências e vivências do praticante sejam provocativas de movimento interno ao se tornarem mais significativas para o exercitante.
Daí então, a Pedagogia Inaciana é a proposta didática prática inspirada nos escritos, na visão e exemplos de vida de Inácio de Loyola, expondo mais claramente o princípio que a sustenta. É inovadora ao se distinguir das pedagogias tradicionais, quando pretende oferecer um método personalizado a partir de uma visão humanista, em que o aluno seja participativo e responsável pelo seu processo educativo, construção do seu conhecimento significativo de forma crítica, ampliando suas habilidades e desenvolvendo seus talentos para que suas ações reflitam o crescimento da pessoa toda, plena. Como diz Klein:
A Pedagogia Inaciana caracteriza-se por ser um enfoque e um acervo, que oferecem uma orientação típica para o processo educativo que pretenda fazer valer a dignidade e o potencial da pessoa e o seu protagonismo transformador da realidade, a partir dos excluídos. (KLEIN, 2014, p.8).
Para isso, a Pedagogia Inaciana propõe que o aluno, em seu crescimento, seja ativo, responsável, autônomo, equilibrado, que saiba discernir sobre o que o move na ação de construir seus saberes, atitudes, valores, aprendendo a aprender, como se entende em Jesus S.C. (1989, p. 34), “Aprender é importante, mas muito mais importante é aprender a aprender e desejar continuar aprendendo, durante toda a vida”. Para que a transformação de si motive a reflexão e compreensão do mundo.
Dessa forma, o Paradigma da Pedagogia Inaciana (PPI) segue as cinco dimensões: Contextualização, Experiência, Reflexão, Ação e Avaliação, propondo uma relação de forma direta com seu objeto de conhecimento, ao se questionar sobre a importância e o significado dele, dignamente e eticamente, para seu crescimento e aprendizado interno e externo, como meio de se chegar a um resultado, em que o caminho e as ferramentas para construção do saber sejam o objetivo maior.
Assim, as dimensões que se apresentam de forma integrada não são isoladas e interagem entre si, dinamicamente, como uma bússola, orientam e atuam continuamente na direção do ensinar e aprender.
Para que o contexto, que é o lugar e a escuta do aluno e de seus pré-saberes e afetos seja absorvido, há que se estar conectado às experiências, ciente de que necessita destas para que a causa do conhecimento seja significativa. Os aspectos do sentido, da percepção de si e as relações com a realidade são integrados, para que sentir e saborear as coisas interajam com a memória, a intuição, a imaginação e a emoção, transpondo os saberes puramente intelectuais, estimulando o ato de agir. Segundo Jesus S.C. (1993, p.49), “As dimensões afetivas do ser humano devem ficar tão implicadas quanto as cognitivas, pois, se o sentimento interno não se alia ao conhecimento intelectual, a aprendizagem não moverá à ação.”
A reflexão se inicia na experiência e termina trabalhando sobre ela: “A reflexão inaciana começa precisamente com a realidade da experiência e termina necessariamente nesta mesma realidade, para atuar sobre ela. A reflexão só faz crescer e amadurecer, quando resulta em decisão e compromisso”. (idem, 1993, p.60).
A ação sugere posturas, posicionamentos e atitudes autônomas sobre escolhas realizadas no caminho responsável da construção do seu conhecimento e aqui se coloca em prática, se aplica e utiliza os saberes conquistados. Lê-se em Jesus S.C. (1993, p.60 e 61), “A palavra ação refere-se aqui ao crescimento humano interior baseado na experiência na qual se refletiu, bem como à sua manifestação externa.”
No ponto da avaliação, importa o processo de desenvolvimento e descobertas interiores e exteriores por parte de todos os envolvidos nesse caminho de crescimento, progresso e amadurecimento pessoal e coletivo ao ampliar e reconhecer suas capacidades, talentos e conhecimentos. Segundo Jesus S.C. (1993, p.63), “Por isso, é essencial a avaliação periódica do seu progresso nas atitudes, prioridades, modo de proceder de acordo com o objetivo de ser ‘pessoas para os outros.’ ”
Propondo formar a pessoa em sua integralidade, seguindo o modelo de Jesus Cristo que convida a todos e a cada um para ter uma participação ativa, humanitária, para atuar com dignidade, fé e justiça na sociedade em que situe como líder para transformá-la, e a si, alterando seu modo de ver, sentir e agir, com o propósito de servir o outro.
Fonte: Colégio Anchieta (RJ)