Educação católica em pauta: as principais temáticas abordadas no VI Congresso Nacional de Educação Católica

Grandes nomes do setor educacional brasileiro estiveram reunidos em Salvador para debater as novas tendências da educação no Brasil. Promovido pela Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC), o VI Congresso Nacional de Educação Católica aconteceu entre os dias 29 de junho e 1º de julho e teve como tema Transformar o Presente e Tecer o Futuro da Educação Católica: pactos e compromissos. O congresso reuniu cerca de 2 mil pessoas no Centro de Convenções Salvador, entre religiosos, especialistas de diversas áreas do conhecimento, professores, gestores de instituições de todos os estados do país e expositores.

Os números do VI Congresso

Foram 40 palestrantes, com 10 conferências e mesas redondas, 13 salas temáticas, além da maior edição da ExpoANEC dos últimos anos. Os participantes tiveram a oportunidade de conferir em mais de 170 estandes, com mais de 60 empresas, os mais modernos produtos, serviços e recursos tecnológicos disponíveis para as instituições de ensino, e participar de 23 programações especiais durante a feira. Estiveram presentes 400 representantes de patrocinadores e expositores.

Educação que transforma vidas

“O que fazer para mudar o mundo? Amar. O amor pode, sim, vencer o egoísmo”. A frase de Santa Dulce dos Pobres, a Irmã Dulce, primeira santa brasileira – canonizada em 2019 -, transmite a sua missão em poucas palavras. A sua vida e obra foram tema de conferência na manhã do segundo dia do Congresso, com a presença de Maria Rita Lopes Pontes, sobrinha da Santa Dulce e superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID). A conversa foi mediada pelo Frei Mário José Knapik, diretor 2º Secretário da ANEC. 

Maria Rita comentou que a OSID acolhe mais de 3 milhões de pessoas por ano na Bahia, a partir da atenção integral, multidisciplinar e humanizada, bem como com ações nas instituições que atuam nos setores de saúde, educação e assistência social. “Ela sempre defendeu a necessidade de educar para a vida para que os estudantes tenham valores, como respeito, compaixão, empatia e humanidade, promovendo justiça social no coração de cada um. Além disso, sempre foi uma preocupação da Irmã Dulce reintegrar essas crianças em suas famílias”, afirmou.

O futuro e as lideranças da educação católica

O olhar para o futuro da educação foi tema de mesa-redonda no segundo dia do evento. Paulo Barone, doutor em Física e professor universitário, apontou que a universidade do futuro precisa aprofundar sua conexão com a sociedade, compartilhar suas características próprias e essenciais com outros atores sociais, diversificar os seus programas acadêmicos, constituir um ambiente de fomento e de formação para atributos de natureza humanista  e democrática e também valorizar as questões de natureza administrativa ligadas à eficiência do trabalho, qualidade da oferta do produto, solidez organizacional, sustentabilidade financeira e outros. “A universidade é uma concentração de competências em relação a qualquer outro ambiente social, e por tanto ela tem que exercer um papel de contribuição decisiva para as políticas públicas e para o desenvolvimento notadamente no nível local e regional”, disse.

Mariângela Risério, mestra em Gestão Educacional e diretora-geral do Colégio Antônio Vieira, de Salvador (BA), aponta que ao pensar em inovação não podemos esquecer da educação. “Essa é a palavra-chave, o nosso DNA. Quando pensamos nela, pensamos na escola que queremos. Para nos perguntarmos sobre o futuro, precisamos primeiro refletir sobre a educação e o espaço que ela ocupa nas nossas instituições”, afirmou.

Já Francisco Morales, filósofo, teólogo e gestor educacional, questionou se atualmente,   em um mundo mais automatizado, precisamos de líderes e liderança. “Se nós quisermos liderar, nós precisamos enxergar a trilha que devemos seguir e fazer isso com paixão, conhecimento e compaixão. O importante não é convencer o outro, o importante é o diálogo. Liderar é gerir a vida na instituição, nas pessoas, nos grupos. Promover nas instituições uma nova mentalidade, novo conhecimento e ação. A liderança propõe, implanta e realiza. É uma liderança humanista, de serviço, de encontro, inclusiva, criativa, espiritualizada e do afeto”, destacou.

Alfabetização para o futuro

O futuro do trabalho e o impacto na educação foram tema da conferência com o professor Luciano Sathler, membro do Conselho Deliberativo do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Ele apresentou uma pesquisa suíça sobre o futuro do trabalho e dos empregos que mostra quais são as  competências com maior demanda para 2030. Entre elas: pensamento crítico, analítico e sistêmico; letramento tecnológico; inteligência artificial e big data; curiosidade, motivação e autoconhecimento; e gestão de talentos.

 Para o professor, as escolas católicas precisam se apoiar em sua essência. “Para a espiritualidade, humanização, compaixão. E isso tem que se refletir nos métodos, nas metodologias, nos currículos, na arquitetura curricular, em tudo”, reforça. “Se nós quisermos que a nossa escola tenha sustentabilidade, nós vamos ter que preparar os nossos alunos, professores, todos os colaboradores para esse universo em transformação”, finalizou.

A construção do novo humanismo para o século XXI à luz do Papa Francisco

O Papa Francisco defende a construção de um novo tipo de humanismo no século XXI, em que as pessoas sejam mais humanas e solidárias umas com as outras. O tema foi abordado durante uma mesa-redonda com Deivid Carvalho Lorenzo, pró-reitor de Graduação da Universidade Católica de Salvador (UCSal), e Evaldo Palatinsky, professor, consultor pedagógico e coordenador do projeto Fraternidade Sem Fronteiras. 

Deivid revisitou a história do século XX para entender a necessidade de um novo humanismo e do educar para o humanismo solidário. O período foi marcado por uma nova forma de pensar, uma racionalidade fruto do espírito iluminista que nos apresentava uma emancipação da menoridade intelectual. “O desenho do novo humanismo vem para enaltecer a condição do sujeito humano, da pessoa humana, mas não dentro da esfera tipicamente individual. Mas na relação com o outro. E a educação de matriz cristã tem por vocação iluminar essa experiência. É o encontro com o outro, igual a mim apesar de diferente, que me põe em encontro com o outro. Que satisfaz aquilo que só Ele pode satisfazer dentro de nós”, comentou.

Evaldo compartilhou a sua experiência de voluntariado em um campo de refugiados no Malawi, na África. O palestrante defendeu que é preciso “quebrar as paredes” da escola, para que os alunos coloquem a mão na massa e realizem um trabalho de voluntariado. “Para que os jovens se tornem cidadãos globais, solidários e fraternos. Quando a pessoa tem um propósito ou um desejo, ele se torna maior do que qualquer obstáculo que você tenha. A educação pode fazer a diferença, a escola aqui antes de ser um local de excelência acadêmica é um espaço humanitário onde as crianças se alimentam e estão protegidas. Há muito que se fazer. A educação planta sonhos e pode transformar essa realidade”, completou.

Reimaginar o futuro da educação juntos

O futuro da educação é indissociável da tecnologia. Aliado aos recursos digitais, será necessário investir na inovação social e pedagógica, bem como repensar o papel dos professores e dos alunos para ir além da formação intelectual e promover desenvolvimento integral do ser humano. Para reimaginar esse cenário e discutir o ensino do amanhã, a última conferência do VI Congresso Nacional de Educação Católica recebeu Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação. Para ele, o futuro da educação perpassa a alfabetização para a contemporaneidade. “Esse conceito inclui uma formação integral em que as crianças precisam ser ensinadas a entender e solidarizar-se com o mundo para que elas possam ajudar na construção de um futuro melhor a partir das potencialidades do nosso país. Nós, como educadores, precisamos ensiná-las a deslumbrar-se e emocionar-se com outros seres humanos, também com os animais e as nossas florestas – uma grande preocupação atual”.

Para atuar pela alfabetização da contemporaneidade, o docente também precisa se adaptar. “Até então, o professor era como um ator de teatro: entre o quadro negro e os alunos representando o seu show. Agora, o educador que quiser realmente encantar os discentes deverá tornar-se um roteirista e diretor de cinema. Ele deverá trazer para a sala de aula aquilo que ele fala e, para isso, utilizar as ferramentas digitais como aliadas para aproximar o conteúdo do estudante, dirigindo o conhecimento. Ele precisará da assessoria de outros especialistas para manusear os equipamentos, assim como no cinema, em que não são os atores que editam as filmagens ou aplicam os efeitos especiais nos filmes. E, tudo isso, de maneira interativa, envolvendo o estudante. A escola não pode mais ser somente salas de aulas com quadros negros. O futuro do mundo está no futuro que dermos a educação e o seu alicerce é a escola”, acredita. “A tecnologia e o ensino remoto jamais substituirão a relação direta entre professores, alunos e suas relações interpessoais”, avaliou.

Fonte: ANEC

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