“Não há inovação sem o envolvimento da comunidade, sem formação de professores, sem o redesenho da arquitetura curricular”

Mariângela Risério D’Almeida é diretora geral do Colégio Antônio Vieira, de Salvador (BA). No VI Congresso Nacional de Educação Católica, realizado nos dias 29 e 30 de junho e 1º de julho, ela foi uma das convidadas da mesa-redonda sobre “Inovação nas Escolas Católicas”.

Na breve entrevista abaixo, Mariângela fala da importância da inovação na educação:

Como você pensa a inovação nas escolas católicas?
O convite para participar desta mesa redonda motivou-me a refletir se ainda tem sentido falar sobre inovação. É preciso entender que a inovação como tema invadiu a pauta reflexiva das escolas de maneira geral, deslocando a reflexão mais importante e central que é sobre a Educação que propomos e a Escola que desejamos e sonhamos. É uma pauta originária do capitalismo neoliberal dos últimos 30 anos e nos últimos 20 anos com uma força avassaladora, tendo a inovação se tornado um “fetiche”, um sinônimo de novo. Tudo o que não é identificado como novo, é obsoleto.

Para as escolas católicas, identificadas de maneira negativa com o tradicional, tomado como adjetivo pejorativo, exigiu e exige revelar este tradicional de forma positiva, em diálogo com a contemporaneidade, associado à história da educação, a raízes fundacionais, a clareza identitária, e intencionalidade educativa em relação à formação integral, pois sabemos o tipo de pessoa/cidadão que queremos formar. Contrapor esses valores é fundamental!

Por que é importante as escolas inovarem nesse momento?  
A inovação é importante, mas precisamos refletir sobre o tipo de inovação que queremos. É preciso discernir. No senso comum a inovação está associada a produtos, a tecnologia digital. Compreendo a inovação acontecendo nos processos de ensino aprendizagem. Ela deve nascer da comunidade educativa e dos seus atores para ter legitimidade, para ter qualidade em seus processos. Ela não pode ser um “pacote” comprado fora da instituição. Pacotes fogem das narrativas das instituições, são impostos. Ela deve nascer da escuta da comunidade: professores, alunos, gestores. Ela precisa estar presente em currículos flexíveis e atualizados a cada tempo pelos atores que compõem a comunidade educativa. As tecnologias digitais são ambientes de aprendizagem complementares, mas por si só, não consistem em inovação. É preciso enxergar na escola que cada pessoa é uma usina de inovação e a escola é um laboratório vivo de experiências.

Para que a escola seja inovadora em seu currículo e em suas metodologias, faz-se necessário um professor bem formado, qualificado, valorizado. Sem ele não se faz inovação! Precisamos ter políticas de formação docente claras e alinhadas ao Projeto Político Pedagógico de cada instituição.  Esse modelo de inovação que acredito, provoca grandes deslocamentos, porque a escola é herdeira de uma tradição autoritária e esse modelo provoca rupturas, convoca a repensar os papéis do aluno e do professor torna a escola mais democrática em seu modo de existir.

A inovação se constitui assim, no próprio dinamismo da educação. Resumindo: não há inovação sem o envolvimento da comunidade, sem formação de professores, sem o redesenho da arquitetura curricular. A inovação exige comunidades participativas, democráticas, para que tenha sentido e significado. Refletir sobre a Educação e a Escola que queremos é o mais importante. A discussão sobre a inovação é periférica, porque ela deve ser resultado de uma educação de qualidade, de uma escola que se reinventa a cada dia com intencionalidades e propósitos claros. Tem clareza sobre o seu projeto e as escolhas a serem feitas. 

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