Por Márcia da Silva Zucolatto, orientadora educacional do Serviço de Orientação de Convivência Escolar (SOCE) do Colégio Anchieta, de Porto Alegre (RS).
Um dos objetivos de um colégio jesuíta é o de instrumentalizar e formar um sujeito com habilidades e competências para enfrentar os desafios e as dificuldades que ao longo da vida se apresentarão, e que saibam lidar com suas emoções de forma mais equilibrada, posicionando-se com responsabilidade e comprometimento com sua própria vida e com o coletivo. Ao pensarmos em educação e na construção de sujeitos, precisamos nos dar conta que somos um todo em diálogo e em construção. Somos corpo, mente, sentimentos que agem em busca de seus objetivos. É preciso valorizar o que sentimos e os sentidos que atribuímos às experiências vividas. À escola cabe a formação de um ser que pensa criticamente, age e que também sente.
Hoje, quando se fala em educação, se fala em educação integral, que contempla o sujeito em sua totalidade e isso significa também contemplar a dimensão socioemocional. Podemos então dizer que a educação deve visar à formação e ao desenvolvimento humano global, o que implica compreender a complexidade desse desenvolvimento. A escola do século XXI vem se reinventando, agregando e entendendo que o conhecimento não se constitui somente da natureza cognitiva, dando espaço para trabalhar a afetividade. Para a educação jesuíta, a afetividade contribui significativamente para a educação integral da pessoa Os fatores emocionais interferem de forma marcante no processo de ensino e aprendizagem. A emoção configura-se como um fator essencial a ser considerado dentro da prática pedagógica.
Ao educar hoje, o educador necessita tomar consciência do mundo e da sociedade que pretende ajudar a construir como tarefa educativa. Os pressupostos de desenvolvimento integral, à luz da Pedagogia Inaciana, partem do princípio da formação de homens e mulheres para o mundo contemporâneo, com a mente, o coração e as mãos impregnadas de valores, habilidades e competências para construir um mundo conforme Deus quer.
Portanto, como educadores inacianos, entendemos que a afetividade tem papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem, bem como as relações professor e aluno, para que essas interações sejam construídas e permaneçam embasadas no respeito mútuo e no diálogo, consequentemente contribuindo para aprendizagens significativas. Sabemos que quando o indivíduo é motivado e integrado em suas dimensões afetiva, cognitiva e espiritual, ele alcança com mais facilidade os objetivos propostos pela escola, ou seja, a formação integral de cada pessoa. Neste processo, é necessário que aconteça a escuta, a disponibilidade, o diálogo, a reflexão e a experiência.
O desenvolvimento das habilidades socioemocionais e afetivas impactam significativamente na aprendizagem, além de propiciar melhora no clima escolar e na convivência entre os estudantes. A convivência deve ser bem pensada e organizada para que haja respeito entre todos. É importante fazer uma ligação entre justiça, respeito e solidariedade com os alunos, referindo-se sempre à uma vida digna e saudável, pois assim entenderão que viver bem consigo e com os outros requer compromisso e corresponsabilidade. Trabalhar com a perspectiva afetiva é fazer aflorar o sentimento de tolerância, de respeito a si e ao próximo, o que refletirá diretamente no clima escolar. Portanto, cabe a todos, que acreditam numa educação de qualidade e significativa, um empenho contínuo em busca da propagação da afetividade nas relações de toda a comunidade escolar.
* Artigo apresentado ao curso de Educação Jesuítica: Aprendizagem Integral, Sujeito e Contemporaneidade, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e publicado no livro “Educação Jesuítica: Aprendizagem Integral, Sujeito e Contemporaneidade. Um novo olhar sobre as práticas educativas | Volume 2” (2022).