A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) destaca cinco competências socioemocionais que a escola deve aprofundar com os seus estudantes: autoconsciência, autogestão, consciência social, habilidades de relacionamento e tomada de decisão responsável. “As competências socioemocionais referem-se às habilidades que envolvem as emoções, as relações sociais e interpessoais. São manifestadas através dos modos de pensar e de sentir, e estão ligadas à maneira como lidamos com as nossas emoções, relacionamentos, tomada de decisões e resolução de problemas”, explica Amanda dos Reis Santos, coordenadora da Unidade I do Colégio dos Jesuítas, de Juiz de Fora (MG). Portanto, trabalhar em sala de aula com a inteligência emocional, a empatia, a resolução de problemas e tomada de decisões, a comunicação efetiva, o trabalho em equipe e a regulação das emoções contribui para a criação de um clima escolar positivo, relações saudáveis entre os estudantes e educadores, além do desenvolvimento de competências essenciais para o sucesso na vida pessoal e profissional.
Conforme o Projeto Educativo Comum (PEC), nas Unidades Educativas da Rede Jesuíta de Educação (RJE) “toda ação educativa converge para a formação da pessoa, enfatizando a necessidade de reconhecer as potencialidades do indivíduo e garantindo o desenvolvimento dos aspectos cognitivo, socioemocional e espiritual-religioso” (paragráfo 40 – PEC). Sendo assim, o professor é o mediador das aprendizagens socioemoecionais, cujo intuito é o “de educar o aluno […] para que saiba lidar com os diferentes desafios da vida, com a regulação das emoções, com a empatia nas relações estabelecidas, com a resiliência para superar as adversidades, com o autocontrole, com a capacidade de escuta e com o respeito às diferentes opiniões, sendo colaborativo e flexível para com o trabalho em equipe”.
Isabel Tremarin, coordenadora do Serviço de Orientação Educacional do Colégio Anchieta, de Porto Alegre (RS), destaca que a dimensão socioemocional ganhou uma intencionalidade pedagógica nos últimos anos. “Para que o estudante tenha uma educação integral, temos que trabalhar essas competências desde a infância até a adolescência. E o ambiente escolar é muito propício para esse tipo de trabalho, onde eles saem do núcleo familiar e passam a ter convivências sociais. E é nessa convivência que a gente pode então ir lapidando as habilidades e competências da área socioemocional”. Para Andreia Salomão, psicóloga educacional e coordenadora do Serviço de Orientação Educacional do Colégio Santo Inácio, do Rio de Janeiro (RJ), é fundamental que a escola trabalhe com a regulação dos sentimentos, principalmente a relação consigo, com o outro e com a comunidade. “A gente realmente precisa ter um aluno que saiba aplicar isso nas suas relações, que saiba discernir aquilo que é bom para a comunidade em que a gente está vivendo, até para você mesmo. É muito importante que trabalhemos os sentimentos, o autoconhecimento e que saibamos nomear o que estamos sentindo, pois isso fará diferença na vida dos alunos”.
O trabalho com as competências socioemocionais deve contar com a parceria da família. “Quanto mais as famílias estiverem juntas com a escola, melhores serão os resultados e as aprendizagens, e melhor será a formação integral de todos os seus estudantes”, afirma Isabel. Com pais e responsáveis envolvidos, informados de como as competências são trabalhadas, eles podem reforçar esses conceitos em casa, criando um ambiente de aprendizado contínuo. “Quando a escola se une com a família, cria-se um ambiente mais consistente e de apoio para as crianças e adolescentes. As relações familiares também podem colaborar para o desenvolvimento socioemocional delas, uma vez que as interações em casa influenciam a forma como as crianças aprendem a lidar com suas emoções, a forma como se comunicam e interagem uns com os outros”, completa Amanda.
Formação integral de crianças e adolescentes
O Colégio Santo Inácio (RJ) iniciou o trabalho com as competências socioemocionais em 2017, com um projeto-piloto chamado Mentoria. A iniciativa deu certo, e o projeto foi contemplando mais séries. Hoje, ele acompanha e atende as necessidades dos alunos através de atividades que envolvem as três dimensões da formação integral: socioemocionais, cognitiva e espiritual-religiosa. Já as turmas do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental participam do “Abrindo o coração”, que busca trabalhar nos pequenos as dimensões socioemocional e espiritual, a partir de reflexões sobre cuidado, cooperação, autoconhecimento, entre outras. No Projeto de Vida, os alunos do Ensino Médio desenvolvem maior capacidade de reflexão e uma percepção de si, do outro e do mundo que o cerca. “Na dimensão socioemocional, temos uma liberdade em pensar em nossas atividades, de acordo com o que também está sendo trazido por aquela série, por aquela turma, do momento histórico que estamos vivendo”, conta Andreia.
Na Escola Padre Arrupe, em Teresina (PI), os estudantes do 3º ao 5º ano participam da ação “Liderança Infantil”, que consiste na formação de líderes de turma que possam observar, refletir e compreender o papel da liderança estudantil para a melhoria dos processos de aprendizagem que os tocam, a partir do protagonismo dos próprios estudantes. Dentro do Setor de Psicologia trabalha-se a dimensão socioemocional com o projeto “Habilidades Sociais na Escola”. O objetivo é promover o desenvolvimento de habilidades sociais adequadas a serem vivenciadas em momentos e ambientes diversos nos quais os estudantes da Educação Infantil e do Ensino Fundamental estão inseridos.
A instituição também criou, no mês de julho, o Comitê de Mediação de Conflitos para atuar na prevenção e mediação de conflitos que possam surgir junto aos estudantes, colaboradores e familiares, a fim de manter um clima escolar harmônico e saudável para a promoção e institucionalização de uma cultura de paz. Há, ainda, o “Protocolo para uma cultura de paz e segurança na escola”, que orienta e oferece subsídios e dicas práticas para manutenção e melhoria da segurança no ambiente escolar.
No mês de junho, o Colégio dos Jesuítas (MG) inaugurou o Quintal do Imaculada, um espaço que oferece às crianças maior oportunidade de contato com a natureza e o desenvolvimento de diferentes habilidades cognitivas e socioemocionais. A área conta com dois platôs para brincadeiras, com escorregadores e escadas para escaladas, tudo feito com a segurança dos tatames, além de canteiros para hortas e espaço gramado com árvores e gangorras. “Ao participar de atividades ao ar livre e interagir com outras crianças ali, elas têm a oportunidade de praticar e aprimorar diversas competências socioemocionais, como a comunicação, a colaboração, empatia e o respeito, o autogerenciamento, a resolução de problemas e resiliência, expressão emocional, criatividade e imaginação. O Quintal não proporciona apenas momentos de diversão, mas alia-os ao desenvolvimento das habilidades socioemocionais, favorecendo com que possam se relacionar de maneira eficaz consigo mesmas e com os outros”, conclui Amanda.
O Colégio Anchieta (RS), juntamente com a Associação de Pais e Mestres (APM), desenvolve, desde 2006, o Projeto Rede de Pais, que acompanha, apoia, fortalece vínculos e acolhe os pais na tarefa de educar. As atividades formativas e informativas auxiliam a função educativa dos pais em vista da formação integral dos seus filhos. No 1º ano do Ensino Fundamental é desenvolvido o projeto “Educando as Emoções”, e as crianças são incentivadas a identificar sentimentos e emoções em si e no outro por meio de recursos pedagógicos que os levam a reflexões e à construção de alternativas de solução para as situações cotidianas, vivenciadas no ambiente escolar.
“Considerando que somos um colégio da RJE, em que o acompanhamento é parte integrante da vivência da nossa Pedagogia Inaciana, penso ser este – o acompanhamento – o melhor instrumento de avaliação das competências socioemocionais. Ou seja, através do olhar do educador para o estudante, sobre a forma como age nas diversas situações em que se relaciona com os colegas, como fala, a sua capacidade de ser empático e de resolver situações desafiadoras, são abordagens que poderão ser utilizadas pelos docentes no processo avaliativo. A autoavaliação, elaborada com as observações do próprio estudante mediada pelo educador, poderão servir de subsídios para a elaboração de um relatório que registre os avanços das crianças nesse sentido”, considera Amanda.
Núcleo de Educação para a Paz
O Colégio Loyola, de Belo Horizonte (MG), criou o Núcleo de Educação para a Paz (NEP). Como parte da Política Institucional de Convivência Escolar, o Núcleo tem a função de promover ações interdisciplinares de Educação para a Paz, além de coordenar e implementar ações de Práticas Restaurativas. Saiba mais no vídeo abaixo: