Por José Henrique Sasek, ex-aluno do Colégio Anchieta, de Nova Friburgo (RJ)
Vivemos num tempo de muitas demandas e urgências. Tempo em que a aparência, muito sutilmente, substitui a essência e o ter e o poder tomam conta de nós, corroendo nossa identidade mais profunda. Na correria desenfreada em que estamos imersos, vivemos competindo como inimigos ao invés de convivermos como irmãos. Fechados em nós mesmos, vamos nos distanciando do verdadeiro sentido da vida e assim, como árvores sem raiz, vivemos superficialmente. A superficialidade é a marca do nosso tempo. De tantas e tão coloridas imagens que nos atropelam o olhar, já não enxergamos por trás das aparências onde habitam o verdadeiro sentido das coisas, de tanto barulho já não escutamos nossa sinfonia interna que deveria acalentar nosso cotidiano, nossos corpos, território onde o sagrado habita, sofrem com a manipulação consumista que os tornam mero objeto de prazer.
Diante desse deserto infértil em que nos encontramos, precisamos buscar oásis que saciem a nossa sede de infinito. Eles estão dentro de nós. Mananciais escondidos, aterrados por camadas de lixo tóxico, produzidos por nossa sociedade hodierna.
Nesses tempos de desencontros, na busca pelo sentido da vida, a espiritualidade surge como um poço de águas profundas capaz de irrigar nossos desertos e nos reconectar com Deus, conosco, com os outros, e com o mundo, nos ajudando a criar uma nova comunhão recuperando a harmonia perdida.
São muitos os caminhos que a espiritualidade pode nos oferecer. Entre eles, o caminho inaciano, aberto por Santo Inácio de Loyola, que tanto bem tem feito à Igreja e ao mundo. A Espiritualidade Inaciana como é conhecida tem como meta, para quem a abraça, ordenar a própria vida, que consiste fundamentalmente em colocar tudo o que somos e temos em função do fim para o qual fomos criados. Qual seja, amar e servir a Deus.
Para atingir tal escopo, a Espiritualidade Inaciana ensina a rezar com os sentidos. Responsáveis por captar os diversos acontecimentos da vida, eles são fundamentais para compreendermos as diversas situações do nosso cotidiano. Por isso, precisam ser mobilizados, despertados da letargia em que vivem para “sentir e saborear as coisas internamente”. Numa sociedade exteriorizada e superficial esse é um grande desafio: harmonizar a espiritualidade e os sentidos retomando a aliança que une definitivamente o divino e o humano. Rezar com os sentidos nos ajuda a ressignificar nosso existir cotidiano, percebendo o vislumbre do extraordinário que se esconde no ordinário mais cotidiano. Nossas vivências, nossas experiências diárias, iluminadas pela palavra de Deus, são a matéria que dão forma a nossa oração. Nesse acontecer diário a presença de Deus transborda a cada revelação e descoberta. Assim aprendemos “ver Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus”. Experimentar Deus, descobrir sua presença escondida em todos os fatos da vida mais do que uma arte é uma experiência mística que consiste em atirar-se para os braços da vida e ouvir o bater do coração de Deus nos convocando para “em tudo amar e servir”.
Fonte: Colégio Anchieta (RJ)