Encontro de Formação Integral: protagonismo juvenil e desenvolvimento de líderes inacianos

Autoconhecimento, reconhecimento das emoções e dos sentimentos, consciência socioambiental, protagonismo juvenil e formação de lideranças. Estas são algumas das habilidades trabalhadas no Encontro de Formação Integral da Rede Jesuíta de Educação (RJE), o EFI. Em 2023, a sexta edição do evento aconteceu entre os dias 02 e 11 de outubro, na Casa da Juventude Joanin Rosseti, em Vila Oliva, na cidade de Caxias do Sul (RS), e reuniu 63 estudantes do Ensino Médio de 14 Unidades da RJE: Anchieta (RS), Anchieta (RJ), Catarinense (SC), Santo Inácio (RJ), Santo Inácio (CE), Medianeira (PR), Antônio Vieira (BA), São Luís (SP), São Francisco Xavier (SP), Diocesano (PI), Loyola (MG), Jesuítas (MG), da ETE FMC (MG) e da Escola Santo Afonso Rodriguez – Esar (PI). 

A ideia da criação do EFI surgiu em março de 2015, quando o Grupo de Trabalho (GT) para Formação de Lideranças Juvenis Inacianas teve a sua primeira reunião presencial na sede da RJE, no Rio de Janeiro. A maioria dos membros do GT havia participado do curso colombiano “Taller Arrupe”, uma experiência promovida pela Federação Latinoamericana dos Colégios da Companhia de Jesus (Flacsi) e motivada na Espiritualidade e Pedagogia Inaciana para o fortalecimento do conhecimento pessoal, da espiritualidade, do trabalho colaborativo, do discernimento, da liderança e do compromisso com quem mais precisa, a partir de atividades teóricas – estágios pastorais e regionais para estudantes de 16 a 18 anos.

O resultado do trabalho do GT foi a elaboração de uma primeira proposta de um curso semelhante ao da Colômbia, mas adaptado ao contexto juvenil brasileiro. Assim, o Encontro de Formação Integral (EFI) contou com sugestões de mais de 40 jovens brasileiros, além das reflexões do Projeto Educativo Comum (PEC) da RJE, que foi publicado em 2016. O EFI foi aprovado em outubro de 2015, no Fórum de Diretores Gerais da Rede. “Entendo que encontros como o EFI devem passar pelas quatro Preferências Apostólicas Universais. Os estudantes da Companhia de Jesus estão imbuídos no projeto de ser para os demais. O EFI passa pelo desenvolvimento de lideranças inacianas e tem um sentido, um DNA que é nosso. Essa experiência ajuda no autoconhecimento, na sensibilidade, na excelência e no discernimento”, afirma o diretor da RJE, professor Fernando Guidini.

As duas primeiras edições do Encontro aconteceram na Vila Fátima, em Belo Horizonte (MG), nos anos de 2016 e 2017. Já nos anos de 2018 e 2019, o EFI foi realizado na Casa de Retiros São José, em Mar Grande (BA). Após dois anos de espera, devido à pandemia da Covid-19, a Casa da Juventude Joanin Rosseti sediou a quinta edição. O EFI, desde a sua criação, está sempre atento aos novos contextos e desafios apresentados pelos estudantes e em alinhamento às diretrizes da Igreja e da Companhia de Jesus, como as Encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti, as Preferências Apostólicas Universais, o livro “Colégios Jesuítas: Uma tradição viva”, o PEC 2021 da RJE e a Política de Proteção aos Direitos da Criança e do Adolescente. 

Caminhando junto com Santo Inácio

Durante nove dias, os estudantes participam de atividades inspiradas pela história de conversão de Santo Inácio e vivenciam os Exercícios Espirituais adaptados à sua faixa etária. Cada dia da imersão relembra uma etapa significativa do fundador da Companhia de Jesus em regiões, como Loyola, Pamplona e Manresa. 

Os principais temas trabalhados são autoconhecimento, liderança, técnicas de oratória, sustentabilidade, meios de comunicação, condições do trabalho no Brasil,  e, mais recentemente, desde 2022, o Projeto de Vida. A ideia é que eles compreendam o discernimento inaciano como possibilidade para a construção de um projeto de vida em vista da Cidadania Global. 

Em todas as edições, os estudantes são acompanhados por um grupo de assessores, que são os educadores das Unidades da RJE, e de monitores, antigos alunos que tiveram a oportunidade de participar como cursistas do EFI. No último Encontro, foram 16 assessores e nove monitores. Gabriel Telles, antigo aluno do Colégio Anchieta, de Porto Alegre (RS), participou do EFI em 2018, como aluno, e foi monitor em 2022 e 2023. Graduando do curso de Administração – Gestão para Inovação e Liderança da Unisinos, ele afirma que foi muito gratificante retornar ao EFI após concluir o colégio e ter mais uma vez a experiência. “O EFI me ajudou muito a ser protagonista das minhas ações. Acredito que eu consegui me conhecer, entender quem eu era e  ser melhor para aquilo que eu vou fazer na vida e ser melhor para e com os demais. Conhecemos diversas pessoas da Rede Jesuíta de Educação, experienciamos dinâmicas e vivências que levamos para a vida. É uma experiência tão bonita, que marca a nossa vida dentro do colégio”.

Ex-aluna do Colégio Santo Inácio, do Rio de Janeiro (RJ), Luíza Guedes retornou ao EFI em 2023, como monitora. Ela recorda como ter estado no Encontro quando mais nova auxiliou nas suas escolhas. “Foi incrível voltar como ex-aluna e monitora. Seguramente, a decisão de voltar é porque sei da importância que o EFI teve no meu projeto de vida quando eu tinha 15 anos. Ali, tive a certeza de que trabalharia com impacto social e hoje trabalho com isso”, comemora a graduanda de Direito.

Para Melissa Misiuk de Castro, professora do Projeto de Vida no Novo Ensino Médio e orientadora pedagógica no Colégio Catarinense, de Florianópolis (SC), o EFI oportuniza que o estudante entenda o protagonismo de Santo Inácio de Loyola, a sua vocação, a sua missão, o seu sentido de vida.  “Os alunos saem do EFI com essa missão também, porque o EFI não acaba no último dia, pelo contrário, ele dá continuidade, porque depois de você ter  vivido toda essa experiência, você precisa colocar ela em prática de alguma maneira, devolver ela de alguma maneira para a sociedade, ou para o meio que você vive. Descobrindo esse quem eu sou, agora o que eu posso oferecer, ele [aluno] vai então colaborar, cooperar, e de fato começar a entender o  papel social dele, começar a expandir esse entendimento do que é um cidadão global”, analisa.

Experiências de imersão, de retiro, de mergulho dentro de si mesmo, elas são cada vez mais essenciais, porque o mundo que a gente vive é muito fragmentado, é muito acelerado, não nos dá essa possibilidade de olhar pra dentro. A gente criar esses espaços para que os jovens possam olhar a vida de outro lugar, possam pensar sua vida com profundidade, e aí sim reconfigurar atitudes, reconfigurar sonhos, repensar ações, e ir aprofundando a própria existência, porque, na verdade, ao aprofundar a própria existência, ao aprofundar quem eles são no mundo, tudo vai se conectando, tomando sentido, e, inevitavelmente, uma pessoa que busca o bem, que busca a essência, que busca uma vida de propósito, de sentido, vai acabar emergindo dentro deles, a partir deles mesmos, daquilo que faz sentido para eles”, completa o professor Sílvio de Almeida Júnior, do Colégio Anchieta, de Porto Alegre (RS).

Reconhecer emoções e sentimentos

Quando me falaram do EFI, vi aqui uma oportunidade de me conhecer melhor, de conhecer pessoas novas e de poder compartilhar as minhas coisas e de aprender também. Eu acho que aqui no EFI eu aprendi a dar valor para as minhas coisas, dar valor para mim também, a maneirar um pouco mais os meus sentimentos e a lidar melhor com o que acontece no meu dia a dia”, explica Luana dos Santos, do Colégio Catarinense, de Florianópolis (SC). “Quando fui chamada para participar, não sabia o que esperar. A única frase que eu recebi foi ‘deixe-se surpreender’. E foi uma experiência bastante diferente da que eu pensei, em todos os sentidos. Na escola, sou uma pessoa muito tímida e tenho dificuldade de me abrir. Só que quando cheguei aqui me deparei com tanta gente que pensa como eu e que são como eu, eu me senti muito mais à vontade”, complementa Ana Clara Lima, do Colégio Loyola, de Belo Horizonte (MG).

Em todas as atividades e dinâmicas, os jovens são o centro do processo, para que eles tenham uma vivência única e individual, mas que, ao mesmo tempo, saibam acolher as opiniões e sentimentos dos outros colegas. “No EFI, aprendi muito sobre autoconhecimento e autoliderança, porque, muitas vezes, queremos fazer muitas coisas para os outros e acabamos esquecendo de olhar para si. Mas é claro que nós fomos tocados pelo mundo em que estamos inseridos no mundo, mas eu acho muito que é um processo de dentro para fora: primeiro conseguir se autoconhecer para depois levar isso para o mundo”,  frisou Laura Baptista, do Colégio Santo Inácio, do Rio de Janeiro (RJ).

Um dos critérios para participar do EFI é ser consciente e comprometido com a realidade que cerca os estudantes. “Foram nove dias muito intensos que me ajudaram a concretizar sobre essa liderança inaciana que tem em mim, qual líder eu quero e posso ser, quem eu posso atingir e com quem eu posso contar”, destaca Eduardo Fonseca, estudante do Colégio Loyola.

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