RJE celebra a primeira defesa de tese de doutorado

Na última quinta-feira, 30 de novembro, a Rede Jesuíta de Educação Básica (RJE) celebrou a primeira defesa de tese de doutorado do curso de Doutorado em Educação – Turma Complementar Rede Jesuíta. A turma faz parte do programa de Formação Continuada da RJE, que também oferece os cursos de especialização e mestrado, em parceria com a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

Orientado pelo Prof. Dr. Rodrigo Manoel Diaso, o tema da tese do Pe. Mário Sündermann, SJ, diretor do Colégio Loyola, de Belo Horizonte (MG), foi Projeto Educativo Comum e Gestão Colaborativa em Rede no contexto institucional da Rede Jesuíta de Educação no Brasil (2014-2020). “Me propus fazer uma sistematização, ao modo de narrativa, sobre a fundação da Rede Jesuíta de Educação (RJE) e da construção e implementação do seu Projeto Educativo Comum (PEC), a fim de verificar quais princípios de gestão inaciana estavam presentes e estruturaram o processo. A partir desse olhar e dessa análise, podemos pensar em como permear e desenvolver sempre mais o nosso fazer pedagógico hoje a partir de nossa tradição jesuíta de quase cinco séculos”, contou.

A banca examinadora foi composta pelo professor Fernando Guidini, diretor da RJE, pelo Pe. Francys Silvestrini Adão, SJ, da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), e pelas professoras da Unisinos Flávia Obino Corrêa Werle e Betina Schuler. Confira, abaixo, uma entrevista com o Pe. Mário:

Como foi a caminhada no doutorado enquanto aluno?
Foi uma experiência única e extremamente gratificante. Retomar os estudos depois de quase duas décadas da conclusão do mestrado foi um desafio enorme, pois a prática acadêmica exige bastante, tanto do ponto de vista intelectual, quanto do ponto de vista físico e psicológico. Ao mesmo tempo, conciliar o estudo com o trabalho na direção de colégios, inicialmente no Jesuítas, de Juiz de Fora (MG), e depois no Loyola, em Belo Horizonte (MG), demandou uma organização para os estudos, principalmente porque me mudei para a capital de Minas já com os estudos em andamento, o que me exigiu uma dupla adaptação. Iniciar o doutoramento com aulas remotas, devido à pandemia, foi outra experiência impactante, mas também enriquecedora, pois me exigiu reaprender a olhar o local e o global como uma linha contínua e ininterrupta. Experimentar-me como estudante novamente me fez compreender mais e melhor o cotidiano de nossos alunos e mesmo de nossos educadores, que conciliam trabalhos com estudos especiais. Enfim, foi uma experiência bonita e desafiadora, repleta de possibilidades e aprendizagens. 

Que entrega isso significa para a educação?
A educação jesuíta é parte constitutiva e integrante da história da educação, não só no Brasil, mas em termos do Ocidente. A decisão de integrar os colégios e escolas jesuítas do Brasil, por meio de uma rede de educação, qualifica a nossa missão e oferece uma importante contribuição para a educação em nosso país. 

Nesse sentido, acredito que fazer a narrativa da fundação da RJE, a partir da retomada dos documentos fundantes e das narrativas de atores importantes do processo, os quais eu denomino “cofundadores”, é relevante, pois permite à RJE entender os movimentos em curso. Quando reavaliamos um processo de anos como esse, às vésperas da primeira década de vida da Rede ser celebrada, é possível um olhar mais histórico, mais crítico, um distanciamento benéfico no sentido de discernir os pontos de acerto e os de ajuste. Simultaneamente, podemos apontar para desafios e oportunidades em termos de missão como apostolado educativo e de serviço à igreja e à sociedade. Dessa forma, acredito que a “entrega” principal foi uma reflexão sobre nossa jornada educativa: de onde viemos, onde estamos e como podemos seguir como RJE.

Quais foram os maiores desafios e as maiores conquistas?
Acredito que os principais desafios se localizam no que chamaria de gestão das unidades. Ser gestor educacional em tempos adversos como os nossos é um desafio gigante, e ser gestor “inaciano”, creio, é ainda mais desafiador, pois requer não apenas conhecimento e compromisso teórico com a gestão, mas a percepção de que se trata de uma missão que requer discernimento, o que implica afinidade com a espiritualidade inaciana. Garantir essa característica para os principais gestores não jesuítas não é uma tarefa fácil, logo se torna um desafio-chave para a gestão inaciana. Penso que pelo menos as equipes diretivas precisam estar afinadas com a Espiritualidade Inaciana e com a identidade institucional. Desse modo, é oportuno considerarmos o desafio de integrar a tradição espiritual inaciana e a formação de gestores que assumam esse modo de viver a espiritualidade e fazer educação. 

Outro desafio é a necessidade de os gestores pensarem e agirem colaborativamente, trabalharem em rede, e para isso é fundamental a perspectiva da Casa Comum. Para concluir essa primeira parte, existe a percepção de que o PEC, em sua proposta formativa, ainda não chega suficientemente a famílias, estudantes e educadores, o que é um desafio pessoal, de cada gestor, e institucional a ser enfrentado. Precisamos nos debruçar sobre essa questão e buscar formas e linguagens de nos fazermos ouvir, com qualidade, para que nossas comunidades recebam, entendam e adotem o PEC.

Sobre as conquistas, destaco, pelo resultado da pesquisa, que a fundação da RJE foi benéfica para os colégios. Embora, em algum momento, tenha se criado a impressão de perda de autonomia e menos agilidade nos encaminhamentos, a maioria dos respondentes destacou que houve ganhos, principalmente em aspectos formativos e de colaboração mútua. Outro aspecto relevante foi constatar que o PEC é reconhecido como o principal documento produzido pela RJE, que o modo colaborativo e participativo de sua elaboração contribuiu para que fosse mais facilmente acolhido nas unidades e, em diversos casos, pudesse ser “o livro de cabeceira” para quem está em função de gestão. 

Outra constatação é de que o PEC e a RJE foram importantes no enfrentamento da pandemia, pois favoreceram a busca de soluções comuns e trouxeram insumo para os debates com as famílias e o Ministério Público. O fato de haver um documento de Rede, que apresenta orientações para todas as unidades de educação básica jesuíta no Brasil, confere credibilidade e confiança para esses momentos de “anormalidade” (como foi a pandemia), pois reforça a percepção de união, companhia e apoio. A RJE favorece a troca de experiências e saberes, embora haja a percepção de que isso deva e possa melhorar. Essa leitura é muito importante, pois essa possibilidade indica que é um documento “vivo”, que, como nós, podemos e devemos crescer e evoluir.

Quais as conclusões mais significativas?
Como conclusões, entendo que o mais significativo possa ser que a organização da RJE em rede e a existência de um Projeto Educativo Comum são oportunas para enfrentar os desafios do tempo presente e nos possibilita sonhar com um futuro esperançoso. Além disso, existem princípios de gestão inaciana que são relevantes para que o apostolado educativo mantenha sua fidelidade criativa em tempos incertos e de mudanças constantes. A partir das escutas e pesquisas, elenquei dez princípios que, de certo modo, permearam a fundação da RJE e a construção e implementação do seu Projeto Educativo Comum e que podem ser referência para futuros movimentos de gestão colaborativa em rede. Trata-se de princípios vivos, a saber:

1) Missão educativa e discernimento
2) Adaptação e flexibilidade
3) Formação continuada e desenvolvimento de educadores
4) Integração e articulação entre dimensões e pessoas
5) Cuidado com a missão: Cura personalis e Cura Apostólica
6) Magis
7) Encontrar Deus em todas as coisas
8) Trabalho colaborativo
9) Atuação local, com visão global e trabalho em rede
10) Sistematização das atividades e decisões

Além disso, foi traçado um perfil de gestor inaciano, ou seja, alguém que dê conta dos princípios de gestão. Pensar e rever nossas ações, a partir desse perfil inaciano, permitirá que nossa Rede e nossas unidades, individualmente, façam opções mais corretas e precisas em relação aos cargos de gestão, o que, certamente, trará um diferencial “competitivo” para nossas escolas na área de educação.

Como conclusão, penso que o grande ganho foi sistematizar a fundação da RJE a partir de documentos da Rede, da BRA e da percepção dos entrevistados a partir da própria experiência e de seus registros. A escuta é um princípio inaciano, e poder ouvir esses cofundadores da Rede, de forma livre e independente, foi uma maneira de reunir várias histórias ou vários pontos de vista da mesma história para a construção dessa narrativa.

Programa de Formação Continuada

A preocupação da Rede Jesuíta de Educação Básica (RJE) em formar os educadores em novos horizontes teórico-práticos e no conhecimento da proposta pedagógica jesuítica se consolidou no Programa de Formação Continuada. Em 2016 a Unisinos e os colégios da RJE assinaram um convênio que originou a Especialização em Educação Jesuítica: aprendizagem integral, sujeitos e contemporaneidade e o Mestrado Profissional em Gestão Escolar, cursos exclusivos para educadores da RJE. 

O Programa de Formação Continuada é uma oportunidade para que professores e profissionais não docentes ressignifiquem os tempos e espaços de aprendizagem integral, evidenciando sempre a excelência humana e acadêmica da comunidade educativa. Nesse sentido, possibilitar aos educadores aprendizagens pertinentes, que reverberam dentro e fora da sala de aula, é fundamental para o exercício de uma prática pedagógica com qualidade em um currículo evangelizador e com presença apostólica da Companhia de Jesus.

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