Currículo Bilíngue Integrado: concepção e prática

Por Dário Schneider, diretor acadêmico do Colégio Anchieta, de Porto Alegre (RS).


O Colégio Anchieta, com 134 anos de experiência educativa, atento às demandas da  contemporaneidade, iniciou em 2021, na Educação Infantil, a implantação do Currículo  Bilíngue Integrado (CBI) em uma proposta que se estendeu nos anos de 2022 e 2023 ao  Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II e Ensino Médio respectivamente. Inovação  pedagógica construída colaborativamente em parceria com a U-Education, atualmente  Unisinos Education. 

Por que incorporar um Currículo Bilíngue Integrado em um Colégio da Companhia de Jesus? Para Hélot (2006), “as línguas são recursos individuais que constroem pontes entre  diferentes grupos de pessoas” (Hélot, 2006). Há vários argumentos que justificam o fato de  um Colégio da Companhia de Jesus incorporar um Currículo Bilíngue Integrado (CBI). A  começar por seu fundamento que está alicerçado no Projeto Educativo Comum (PEC), da  Rede Jesuíta de Educação (RJE). A fundamentação e essência do PEC está na Pedagogia  Inaciana que propõe aos colégios da Companhia de Jesus educar com vistas à  formação integral, para a excelência humana e acadêmica.

A partir de evidências da segunda autoavaliação do SQGE (2021), atento às demandas das  famílias, e, em sintonia com a RJE, institucionalmente avançou-se em uma tomada de  posição estratégica. A implantação do Currículo Bilíngue Integrado e a necessária  reorganização da Matriz Curricular, levou em conta a perspectiva sistêmica do processo  educativo de ensino e aprendizagem, os horizontes da educação jesuíta de formar para a  cidadania global e a inovação pedagógica. Ainda, o compromisso com a formação integral  e a construção do conhecimento por meio das línguas, de tal modo que as conexões entre elas aconteçam num fluxo contínuo e gradativo, permeadas por situações de vivências cotidianas. 

À luz do Projeto Pedagógico Institucional, o CBI foi construído colaborativamente pela equipe pedagógica do Colégio Anchieta e contou com a assessoria da U-Education da Unisinos, a partir do alinhamento administrativo-pedagógico, focando na formação docente e do alinhamento de práticas curriculares inovadoras em seus fundamentos contextuais, doutrinais e conceituais. No cenário do Colégio Anchieta, a implantação do CBI emerge como uma experiência pedagógica marcante, transcendendo os limites convencionais da educação. Este enfoque inovador da prática não apenas exigiu redefinição da estrutura curricular, mas também teceu uma trama dos fundamentos e concepções curriculares bilíngues e das múltiplas estratégias de aprendizagem. Na essência dessa experiência de inovação curricular, encontramos um profundo comprometimento com a formação de professores. 

A capacitação docente, uma decisão estratégica e enriquecedora da prática, onde os educadores não apenas dominam a língua adicional, mas internalizam uma abordagem pedagógica que ultrapassou as fronteiras da sala de aula. Este processo formativo e de inovação pedagógica não é apenas sobre aprender uma nova língua, mas sobre inovação da prática em codocência, de cultivar uma mentalidade educativa global, onde competência linguística passou a ser percebida como um ativo da qualidade educativa. Os impactos curriculares reverberam por todas as disciplinas, tecendo uma tapeçaria interdisciplinar que enriquece a compreensão do conteúdo. Os muros tradicionais entre os componentes da Matriz Curricular desvanecem, dando lugar a uma estrutura e abordagem curricular que reflete a complexidade da inovação da prática pedagógica no contexto brasileiro. A língua adicional não é mais uma disciplina isolada, mas uma didática integradora que expressa um modo de ser, um modo de proceder e um modo de avaliar a prática pedagógica Inaciana. 

A comunidade educativa, imersa, engajada e atenta à inovação, acreditou nessa metamorfose da prática de aprendizagem. Os estudantes, passam a dominar uma língua adicional, vislumbram uma prática que transcende o monolinguismo, usufruindo de práticas multilíngues. O processo não é apenas técnico; é uma jornada cotidiana que enriquece o sentido de uma visão universal e uma prática multicultural, promovendo o reconhecimento da formação integral e o respeito pelas diversas manifestações culturais. 

Um processo de mudança e inovação envolve pessoas e tempos. Há, naturalmente, desafios e oportunidades em relação a formação continuada do corpo docente, a ressignificação do modo de planejar e das práticas pedagógicas, da necessidade de maior carga horária para planejamento colaborativo, da qualificação da formação integral dos estudantes em vista da cidadania global, do fortalecimento de vínculos entre as instituições educativas da RJE, e, da parceria com a Universidade (Unisinos). Essa narrativa de implantação do CBI, uma prática de inovação pedagógica institucional com o protagonismo da equipe pedagógica e engajamento dos educadores, no contexto do Colégio Anchieta, destacam-se como um farol na educação jesuíta contemporânea. Ela não apenas desafia paradigmas, mas também oferece uma visão inspiradora de como a educação pode ser uma força transformadora, preparando os estudantes para navegarem para águas mais profundas, conscientes de necessidade de uma formação cada vez mais interconectada e intercultura

* Artigo publicado no Boletim de fevereiro de 2024 do Centro Virtual de Pedagogia Inaciana (CVPI), da Conferência dos Provinciais da  América Latina e do Caribe (Cpal) da Companhia de Jesus.

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