Faltando pouco mais de dois meses para o início das inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), geralmente abertas em junho, os estudantes que estão cursando a terceira e última série da Educação Básica começam a sentir ainda mais fortemente as pressões sociais quanto ao futuro profissional. Isto porque o bom desempenho no exame permite o ingresso nas principais universidades do país. A psicóloga do Serviço de Orientação Educacional (SOE) do Colégio Antônio Vieira, de Salvador (BA), Mara Raquel Valverde, adverte que o cuidado com o aspecto emocional do jovem que se prepara para fazer o Enem deve ser iniciado muito antes do prazo da realização do exame, em novembro – preferencialmente de forma constante desde as séries finais do Ensino Fundamental e início do Ensino Médio.
“Os jovens estudantes que estão na 3ª série do Ensino Médio enfrentaram um longo processo de escolarização e chegam à finalização dessa etapa se esforçando para ingressar no Ensino Superior. Isso gera sentimentos que variam desde uma preocupação até o nível de ansiedade generalizada e estresse acentuado, pois, de fato, o Enem e vestibulares são provas concorridas, classificatórias, que testam a capacidade de reunir todo o conhecimento de uma trajetória escolar”, explica a psicóloga. Ela destaca que “tanto a escola quanto a família devem buscar ajudar o estudante a manter o seu equilíbrio emocional, diante do nível de exigência imposto pela sociedade e que, muitas vezes, o jovem também cobra dele mesmo, desejando alcançar escores cada vez melhores para o que ele tem como objetivo e projeto de vida”.
De acordo com a especialista, o nível de comprometimento da escola para com a preparação intelectual dos estudantes precisa ser proporcional ao cuidado com os aspectos emocionais, “para que os jovens possam fazer esse percurso de forma equilibrada, contando com excelência acadêmica e qualidade emocional, o que também impacta nos resultados”, diz. “É fundamental estar academicamente bem-preparado, assim como chegar ao momento da avaliação e conseguir responder positivamente às circunstâncias que vão estar ali atravessando aquele momento considerado decisivo, dando conta de gerenciar tempo e emoções, conseguindo se autorregular e gerenciar o conteúdo estudado, para que possa ter o melhor resultado, que é o que o estudante deseja e todos nós, família e escola, desejamos também”, completa Mara Raquel.
Dicas da especialista
1. Ajude-os a traçar habilidades e vocações
De acordo com Mara Raquel, é importante encorajar o adolescente em seus projetos, especialmente aqueles que dialogam com sua realização pessoal e impactam positivamente o contexto social em que ele está inserido. “Mostre que valoriza seus ideais, assim como também compreende seu momento de dúvidas nesse desafiador processo de autoria vocacional”, frisa a orientadora educacional. A partir da experiência ao longo dos anos contribuindo com o desenvolvimento dos projetos de vida dos jovens do Vieira, ela considera importante colocar-se à disposição para ajudá-los a identificar suas habilidades e interesses, orientando-os na escolha de áreas de estudo alinhadas com suas aptidões naturais e o desenvolvimento de sua humanidade. “Isto pode ser feito por meio de conversas abertas, observando e tecendo comentários construtivos a respeito do desempenho em diferentes atividades e oferecendo apoio para que possam reconhecer e desenvolver dons, talentos nos diversos campos do conhecimento”, exemplifica. Mara Raquel ainda destaca que, identificando níveis mais elevados de insegurança quanto à decisão de qual vocação seguir, é válido buscar apoio da equipe pedagógica do colégio e de profissionais que atuam no âmbito da orientação profissional.
2. Incentive o autocuidado
É fundamental que os pais estimulem os filhos a cuidarem de si mesmos durante o período de preparação para o Enem, o que inclui incentivar uma alimentação saudável, horas adequadas de sono, prática de exercícios físicos e momentos de relaxamento para aliviar o estresse. “Um estudante bem-cuidado fisicamente tende a ter um desempenho cognitivo melhor”, frisa a psicóloga. “Sugira que reservem alguns minutos por dia para praticar técnicas de relaxamento, alongamento, respiração profunda ou meditação. Essas práticas ajudam a acalmar a mente, aliviar as tensões corporais e emocionais, proporcionando melhor capacidade de concentração”, recomenda.
3. Evite pressões ou comparações
Pressionar os filhos ou compará-los com outros estudantes pode gerar ansiedade e insegurança. Em vez disso, os pais podem oferecer apoio, encorajando-os a fazer o melhor que podem para ampliar os seus próprios limites. “Valorizar o esforço e o progresso individual gera mais estímulo que comparar notas ou classificações”, pontua Mara Raquel.
4. Deixe que eles escolham a profissão ou tracem seu perfil
O desafio para os pais é favorecer condições que promovam a autonomia dos filhos na escolha de sua profissão ou no delineamento de seu perfil profissional. Isto significa respeitar as preferências e aspirações dos jovens, mesmo que estas não correspondam às expectativas da família, como aponta Mara Raquel. “Procurem, sempre que possível, lembrar de que apoiá-los em suas escolhas contribui para o desenvolvimento da autoconfiança e autoestima. Evitem a crítica excessiva. Mostrem-se dispostos a lembrá-los de que o processo de estudos para o Enem e a escolha profissional inerente a esse percurso compõem uma jornada pessoal na qual cada desafio enfrentado é uma oportunidade de crescimento. Celebrem junto com seu filho cada conquista e aprendizado ao longo do caminho”, diz a psicóloga e orientadora educacional.
5. Coloque-se à disposição para pesquisar faculdades
Os pais podem oferecer apoio na pesquisa sobre faculdades e cursos que sejam adequados aos interesses e objetivos de carreira dos filhos. “Isto pode envolver ajudar na busca por informações sobre programas acadêmicos, visitas a instituições de Ensino Superior, acompanhamento durante o processo de inscrição e matrícula, entre outros”, diz Mara Raquel. “Estar presente e disponível para ajudar nas decisões relacionadas à educação é uma forma eficaz de apoio parental durante a preparação para o Enem”, completa.
6; Busque apoio emocional quando necessário
Como pais, procurem manter uma atitude positiva e confiante. Entretanto, não hesitem em também buscar apoio emocional de amigos, familiares ou profissionais que cuidam da saúde mental, caso sintam necessidade, recomenda a psicóloga. “Conversar sobre seus sentimentos e preocupações pode ajudar a encontrar novas perspectivas para lidar com os desafios de acompanhar os filhos não somente na preparação para Enem e outras formatações de vestibulares, mas, sobretudo, no apoio à travessia que envolve a transição entre a adolescência, juventude e a vida adulta, em um mundo em constante transformação”, conclui.
Fonte: Colégio Antônio Vieira