Artigo: “O desafio de formar jovens leitores em tempos de Inteligência Artificial”

Por Ana Lucia Cardoso Anselmo Pereira, antiga aluna do Colégio Anchieta, de Nova Friburgo (RJ) e professora de LEO.

 

A ascensão da inteligência artificial (IA) tem sido um marco na história, transformando radicalmente a maneira como vivemos, trabalhamos e nos comunicamos. No entanto, à medida que abraçamos essa revolução tecnológica, é crucial refletir sobre seus impactos em nossa relação com a leitura e o conhecimento.

Os jovens, principalmente, enfrentam um desafio único quando se trata de ler nessa nova era. A tecnologia transformou a maneira como interagimos com a informação, oferecendo uma infinidade de opções digitais que competem pela nossa atenção. Enquanto isso, a importância da leitura muitas vezes é questionada ou até mesmo ignorada.

A IA trouxe consigo uma explosão de conteúdo digital, desde redes sociais até plataformas de streaming de vídeo, que oferecem entretenimento instantâneo, competindo pela atenção do público com os livros tradicionais. Nesse cenário, os jovens são constantemente bombardeados com estímulos visuais e sonoros, levando a uma diminuição do hábito de leitura profunda e reflexiva, prejudicando a capacidade de concentração, análise crítica e pensamento analítico.

Além disso, a disseminação de recomendações personalizadas de conteúdo cria filtros, furtando do jovem uma variedade de perspectivas e a riqueza de gêneros literários. Isso pode restringir seu desenvolvimento intelectual e a capacidade de pensamento crítico, pois ele pode se tornar cada vez mais isolado em sua própria bolha de interesses e opiniões.

No entanto, apesar desses obstáculos e desafios, a leitura continua sendo uma habilidade fundamental para o sucesso acadêmico, profissional e pessoal dos jovens. Ao mergulharem em um livro, são transportados para novos mundos, expostos a ideias divergentes e desafiados a questionar suas próprias convicções. A capacidade de compreender e analisar textos é essencial em todas as áreas da vida, desde a sala de aula até o local de trabalho. Ler é uma forma poderosa de expandir horizontes, cultivar empatia e explorar novas ideias e culturas. Além disso, a leitura regular tem sido associada a uma série de benefícios, incluindo melhorias na saúde mental, cognição e empatia.

O pensamento analítico e a leitura estão particularmente ligados, formando uma relação cooperativa que enriquece a compreensão e a capacidade de raciocínio dos leitores. A leitura, especialmente de textos complexos e desafiadores, estimula o pensamento analítico ao exigir que os leitores processem, interpretem e avaliem informações de maneira crítica.

Ao se engajar com textos variados, os jovens leitores são expostos a uma ampla gama de ideias, argumentos e perspectivas. Eles são desafiados a analisar a estrutura dos argumentos apresentados, identificar suposições implícitas, avaliar a validade das evidências fornecidas e formar suas próprias opiniões. Isso é essencial para o pensamento analítico, pois os capacita a discernir relações de causa e efeito, identificar soluções para problemas complexos e tomar decisões.

Portanto, a leitura e o pensamento analítico se complementam de maneira poderosa, criando maior capacidade dos jovens de compreender, interpretar e responder ao mundo ao seu redor. Ao cultivar o hábito da leitura e promover habilidades de pensamento crítico, podemos capacitar as pessoas a se tornarem cidadãos informados, líderes eficazes e solucionadores de problemas em nossa sociedade.

Para enfrentar esse desafio, é crucial adotar uma abordagem que combine tecnologia com práticas de leitura tradicionais. É necessário que possamos tornar a experiência de leitura mais envolvente e interativa para os jovens. Ao mesmo tempo, é importante promover um ambiente que valorize e incentive a leitura física de livros e textos impressos, reconhecendo os benefícios únicos que ela oferece. Em vez de encarar a IA como uma ameaça à leitura, devemos vê-la como uma oportunidade para reimaginar e enriquecer essa prática milenar.

Educadores, pais e profissionais do setor editorial têm um papel fundamental a desempenhar na promoção da leitura entre os jovens. O primeiro passo deveria ser em casa, o mais cedo possível, cultivando o amor pela leitura e pela contação de histórias. Mais tarde, nas escolas, o fornecimento de acesso a uma variedade de materiais de leitura e o engajamento das crianças em discussões significativas sobre literatura e cultura.

Em última análise, o desafio da leitura dos jovens, em tempos de inteligência artificial, exige uma abordagem colaborativa e proativa por parte de toda a sociedade. Ao reconhecer a importância da leitura como uma habilidade fundamental para o sucesso futuro dos jovens, podemos trabalhar juntos para superar os desafios apresentados pela era digital e garantir que todos tenham as habilidades e o incentivo necessários para se tornarem leitores ávidos e críticos.

Fonte: Colégio Anchieta (RJ)

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