A busca por uma formação integral, que vá além do acadêmico, é cada vez mais urgente. A Rede Jesuíta de Educação Básica (RJE), com a sua missão de promover uma educação de excelência, encontra ressonância nos princípios do Pacto Educativo Global (PEG), um chamado do Papa Francisco para que todas as pessoas no mundo, além de instituições, igrejas e governos, priorizem uma educação humanista e solidária para transformar a sociedade.
A proposta foi lançada pelo Pontífice em 12 de setembro de 2019, mas o mesmo convite foi relançado por Francisco um ano depois, em 15 de outubro de 2020. “Acreditamos que a educação é uma das formas mais eficazes de humanizar o mundo e a história. A educação é, antes de tudo, uma questão de amor e responsabilidade que se transmite de geração em geração”, disse o Papa, no vídeo por ocasião do encontro promovido pela Congregação para a Educação Católica, Global Compact on Education. Together to Look Beyond. “Inspirado no provérbio africano ‘é necessário uma aldeia para educar uma criança’, isso denota que todos nós somos responsáveis pela educação das nossas crianças e dos nossos jovens. A Rede Jesuíta de Educação, comprometida com a educação integral, traz no seu escopo de trabalho, a pessoa na sua integralidade. Uma Rede comprometida com os valores do Evangelho, uma educação que traga a pessoa para o centro e que lhe escute e que se coloque com ela no processo educativo”, explica o Ir. Jorge Luiz de Paula, SJ, assessor pedagógico do Colégio São Francisco Xavier, em São Paulo (SP).
O PEG é composto por sete princípios: coragem para colocar a pessoa no centro do processo educativo; ouvir as crianças, os adolescentes e os jovens; fomentar a participação educativa de meninas e mulheres jovens; considerar a família como a primeira e indispensável educadora; educar e educar-nos para acolher os vulneráveis e marginalizados; estudar formas de economia, política, crescimento e progresso que preservem o homem e a ecologia; e proteger e cultivar nossa Casa Comum. Assessor pedagógico da Rede, o Pe. Luiz Fernando Klein, SJ, recorda que para operacionalizar e implementar esses compromissos, a Organização Internacional da Educação Católica (OIEC), propôs, em um folheto chamado Do local ao global, quatro fases. “A primeira é realizada dentro do centro educativo, por reuniões, com diálogos, reflexões, criatividade. Em segundo lugar, que esse trabalho se faça com outros centros educativos. Em terceiro lugar, que o mesmo processo se dê em âmbito de municipalidade para, finalmente, na última fase, abarcar o país, a nação e o âmbito internacional”, comenta.
Diante dessas propostas, Pe. Klein desenhou cinco passos prévios para o processo de implementação do PEG: sensibilização para despertar o afeto em vista de uma ação comprometida; conscientização que leve a uma análise crítica da realidade, da educação, da economia, da política etc.; interpelação, ou seja, deixar-se indignar, reagir fortemente e severamente contra os desmandos da educação; mobilização de outros setores e parceiros; e, por fim, a verificação do trabalho que está sendo desenvolvido. “O Papa Francisco não propõe ações e um programa; ele propõe metas, panoramas e horizontes dentro dos quais nós temos que estabelecer o caminho”, frisa.
Para Pe. Klein, os valores da RJE alinham-se aos princípios do PEG a partir do sonho da fraternidade e do trabalho em rede. “O Pe. Arrupe já dizia, há 45 anos, que nenhum centro educativo poderia viver em splendid isolation, mas teria que sintonizar, articular-se com outros centros também. E, hoje em dia, o trabalho em rede e em comunidade é inegociável para a proposta educativa inaciana”, conclui.
O Pacto Educativo Global nas unidades da Rede
Os estudantes do Ensino Fundamental II e do Ensino Médio do Colégio São Luís (CSL), em São Paulo (SP), participam das Experiências de Fraternidade. O objetivo é que os jovens sejam inspirados a elaborar projetos de vida que tenham como um de seus propósitos o “ser mais para os demais”. A iniciativa está alinhada ao 5º compromisso do PEG: educar e educar-nos para acolher os vulneráveis e marginalizados. Em 2023, o CSL promoveu a 1ª Feira da Fraternidade, com as dez organizações e instituições sociais parceiras que acolhem os estudantes nas Experiências. Durante o evento, a comunidade escolar pôde conhecê-las e se motivar a colaborar com o trabalho feito, engajando-se como pessoas de boa vontade na posição de voluntários e/ou apoiadores financeiros. Para as famílias, especialmente, essa foi uma oportunidade de aprofundar o conhecimento das ações que os alunos já experimentam no cotidiano escolar. Clique aqui e conheça mais sobre o projeto.
A AcampaTrilha Inaciana, promovida pelo Colégio Loyola, em Belo Horizonte (MG), é uma resposta aos desafios do PEG, por colocar a pessoa no centro e buscar responder às necessidades de cuidado com a Casa Comum. Podem participar estudantes do Ensino Médio, e em cada série o projeto é adaptado ao contexto escolar dos jovens e dos seus projetos de vida. As experiências são ancoradas na história de Santo Inácio de Loyola, em sua vivência de peregrino, em vários ambientes e tempos de sua vida pessoal e comunitária. É uma imersão em parques municipais, estaduais e nacionais de conservação ambiental, de modo a que seja possível articular a espiritualidade inaciana entrelaçada com a fraternidade e a sustentabilidade ambiental. Ao contemplarem a natureza, os estudantes são movidos à consciência ecológica e ao compromisso com o cuidado com os afetos, valorizando a criação divina enquanto fazem a experiência de harmonia com o meio ambiente.
Além disso, a iniciativa possibilita a aprendizagem cooperativa e a solidariedade. Por meio de atividades ao ar livre e dinâmicas de grupo, de vivências espirituais, os estudantes experimentam a importância do trabalho em equipe e do apoio mútuo. Essa vivência encoraja a formação de laços fortes entre os participantes, reforçando o espírito de comunidade e fraternidade, essenciais para a construção de um mundo mais justo e inclusivo, em sintonia com os princípios do Pacto Educativo Global.
No Colégio Anchieta, em Nova Friburgo (RJ), as Assembleias Anchietanas se tornaram um espaço valioso para que os estudantes possam expressar suas experiências, sentimentos e ideias desde os primeiros anos escolares. “Assim, ouvimos suas vozes, seus sonhos e suas formas de ver o mundo. Além disso, o diálogo e o conhecimento compartilhado permitem que os estudantes desenvolvam a prática de se envolver em debates cotidianos. Isso as leva a compreender melhor a si mesmas e aos outros, tornando-as mais participativas e, no futuro, cidadãos críticos, compassivos e conscientes de seu papel na construção de uma sociedade mais justa e igualitária”, explica Angélica Engel, coordenadora da Formação Cristã.
A Casa Madre Roselli, instituição parceira do Anchieta, atende aproximadamente 50 meninas entre seis e 12 anos em situação de vulnerabilidade social, e os anchietanos realizam atividades integrativas com a obra. O lucro dos ingressos da Festa Junina é doado para a organização, assim como os itens recebidos na campanha Doar para Educar. Nas Experiências de Fraternidade, os alunos têm momentos de vivência, reflexão e ação, favorecendo a mudança de mentalidade e a conversão do coração. “Nosso objetivo é desenvolver a sensibilidade dos estudantes para com as necessidades dos outros, promovendo a solidariedade com os que sofrem e são vítimas de injustiça e todo tipo de exclusão. A cada mês, convidamos nossos estudantes a realizar uma breve imersão em obras sociais da comunidade local. Queremos que se tornem pessoas educadas para a acolhida, abrindo-se aos mais vulneráveis e marginalizados”, conta.
Assumindo o compromisso de cuidar da Casa Comum, o Colégio Anchieta inaugurou, neste ano, usinas fotovoltaicas e as trilhas ecológicas, ferramentas importantes na promoção da educação ambiental e da conscientização sobre a preservação dos ecossistemas. “Hoje, assumimos, no chamado do Papa Francisco, um novo modelo de educação que preza pela excelência para todos, combatendo a exclusão, a indiferença e as injustiças no campo da educação. Juntos, construímos caminhos, formamos alianças e fortalecemos redes para que uma visão mais solidária do mundo possa responder aos pilares da educação apontados pelo Papa Francisco: conhecer a si mesmo, conhecer o próximo, conhecer a criação e o transcendente. É preciso apresentar essas verdades às crianças e jovens, pois elas dão o verdadeiro sentido à vida, unindo nossas vozes em um coro pelo Pacto Educativo Global”, finaliza Angélica.