A Rede Jesuíta de Educação valoriza a formação contínua de seus educadores, reconhecendo a importância da pesquisa e do aprofundamento acadêmico para a missão educativa. Vamos conhecer educadores das unidades da RJE que defenderam seus doutorados e mestrados, compartilhando suas trajetórias, descobertas e impactos na prática pedagógica e celebrando o compromisso com o conhecimento que transforma.
Como destacou o Pe. Geral Arturo Sosa, SJ, no Congresso Internacional dos Delegados de Educação da Companhia de Jesus (Jesedu), em outubro de 2017: “Urge que nossas instituições sejam espaços de pesquisa pedagógica e verdadeiros laboratórios de inovação didática, dos quais surjam novos métodos ou modelos formativos”. Esse chamado reforça a relevância de investir em formação acadêmica, alimentando uma educação capaz de dialogar com as transformações do mundo contemporâneo.
Ex-aluno e atual coordenador pedagógico do 8º ano à 3ª série do Colégio Medianeira, em Curitiba (PR), Alessandro França Quadrado trilhou um caminho marcado pelo compromisso com a educação transformadora. Desde que voltou à instituição como professor, em 2010, ele passou por diversas funções pedagógicas até chegar ao cargo atual: professor de Língua Estrangeira, orientador de convivência escolar no Ensino Médio, orientador de aprendizagem do 9º ano e orientador de aprendizado da 2ª e 3ª séries do Ensino Médio.
A vivência cotidiana no Medianeira e sua inquietação com o papel da escola na formação de sujeitos críticos impulsionaram o docente a investigar, em seu doutorado em Educação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), o tema Por uma Práxis Educativa Jesuíta: a formação de jovens pesquisadores na educação básica comprometidos com a transformação social (leia aqui). Em sua tese, ele propôs indicadores qualitativos que ajudam a avaliar — e qualificar — a ação pedagógica. Confira, abaixo, a entrevista:
O que o motivou a pesquisar sobre o tema? Minha motivação para pesquisar sobre esse tema surgiu a partir da minha própria trajetória acadêmica e profissional, especialmente na atuação cotidiana no Colégio Nossa Senhora Medianeira. O contato direto com os desafios e as potencialidades da práxis educativa jesuíta me instigou a compreender de forma mais aprofundada como essa prática pode contribuir para a formação de jovens comprometidos com a transformação social. Acredito que a educação, especialmente quando pautada em princípios como a educação pela pesquisa e a liderança inaciana, possui um papel fundamental na construção de sujeitos críticos, éticos e engajados. Esse entendimento, aliado à necessidade de sistematizar e avaliar os elementos que fortalecem essa práxis, foi o que impulsionou minha investigação.
Como que a “educação pela pesquisa” contribui para formar estudantes mais críticos e engajados socialmente? A educação pela pesquisa contribui para a formação de estudantes mais críticos e engajados socialmente ao promover uma atitude investigativa constante, capaz de questionar verdades absolutas, romper com a passividade tradicional do ensino e estimular a produção de novos conhecimentos voltados à transformação da realidade.
Ao invés de simplesmente consumir conteúdos prontos, os estudantes passam a compreender a ciência como um processo em construção, e o conhecimento como algo que pode — e deve — ser interrogado e ressignificado. Esse processo fortalece a consciência crítica, estimula o inconformismo diante de injustiças e aproxima os estudantes das realidades sociais mais vulneráveis, incentivando a atuação cidadã ética, solidária e transformadora
A sua pesquisa envolveu egressos do Colégio Medianeira e professores. Quais foram as principais percepções que eles trouxeram? Os egressos do Colégio Medianeira destacaram, de forma unânime, o impacto positivo da educação pela pesquisa em sua formação, especialmente no desenvolvimento de uma postura crítica, liderança e comprometimento com causas sociais. Relataram que essa experiência influenciou diretamente tanto sua atuação acadêmica, em pesquisas voltadas ao bem comum, quanto sua postura no ambiente profissional, marcada pela mobilização de colegas e pela busca de soluções que considerem a coletividade e a sustentabilidade.
Já os professores e ex-professores, ao compararem os egressos do Medianeira com estudantes de outras instituições, reconheceram neles traços marcantes de inquietude, curiosidade, criticidade e um genuíno interesse por transformações sociais. Essas percepções reforçam a ideia de que a práxis educativa jesuíta, especialmente quando centrada na educação pela pesquisa, favorece o desenvolvimento de sujeitos comprometidos com a transformação da realidade.
Você propôs no seu estudo indicadores qualitativos para avaliar a práxis educativa jesuíta. Como esses indicadores podem auxiliar na qualificação do trabalho pedagógico? Os indicadores qualitativos propostos no estudo têm como principal função oferecer subsídios concretos para a análise crítica e o aprimoramento contínuo da práxis educativa jesuíta. Ao serem aplicados de forma sistemática, eles permitem identificar com mais clareza como os três potencializadores — o ethos curricular descolonial e intercultural-crítico, a educação pela pesquisa e a liderança inaciana — estão sendo efetivamente vivenciados na prática pedagógica. Esses indicadores não servem apenas para aferição, mas como dispositivos reflexivos que fomentam o discernimento coletivo e intersubjetivo entre educadores, estudantes e comunidade acadêmica em geral, ampliando a consciência sobre o impacto formativo das ações educativas.
Ao possibilitarem uma avaliação qualitativa dos processos, eles abrem espaço para revisitar rotinas pedagógicas, identificar lacunas, fortalecer práticas já consolidadas e, sobretudo, manter a práxis em constante diálogo com os desafios sociais concretos enfrentados na comunidade acadêmica da instituição jesuíta. Dessa forma, contribuem para que o trabalho pedagógico deixe de ser meramente reprodutor de conteúdos e se torne efetivamente formador de sujeitos críticos, comprometidos com a transformação social em um contexto global e local.