Abrir a agenda de pais muito ocupados para se fazer, de fato, presente na vida dos filhos, mesclando tempo de quantidade e tempo de qualidade, é o melhor caminho para buscar criar crianças e jovens, pensando na felicidade deles no presente e no futuro. A medida é considerada urgente pelo psicólogo, neuropsicólogo e doutor em Ciências da Educação, Alessandro Marimpietri, que fez, no dia 14 de agosto, uma palestra para as famílias dos estudantes do Colégio Antônio Vieira, em Salvador (BA). O evento foi o segundo da série APM Talks, promovida pela Associação de Pais e Mestres da instituição.
“Somos a ‘Sociedade da Performance’ (Byung-Chul Han), de pais sempre muito ocupados pensando em acumular bens materiais para dar o melhor aos filhos, e nos esquecemos que o melhor que os pais podem fazer pelos filhos é estar mais com os eles, cuidando do presente para garantir o futuro. Criança precisa de tempo com os pais, e isso significa que precisamos reinventar as nossas relações de parentalidade, firmar um verdadeiro pacto civilizatório em prol das crianças e jovens”, alertou Marimpietri, após fazer reflexões sobre os contextos de criação dos avós e pais, que vivenciaram uma mesma era, e a mudança total de realidade da era dos filhos na sociedade do século 21.
Marimpietri ressaltou, entretanto, o quanto é importante estar presente na vida dos filhos, mas sempre os preparando “com autonomia e respeito ao outro e à coletividade”, evitando situações também de pais que acabam se tornando “excessivamente presentes em certos aspectos (em que não deveriam ser) e excessivamente ausentes em outros (em que deveriam ser mais presentes). Ele lembrou que as relações com os filhos são sempre muito singulares. Assim, segundo ele, tanto viver a nostalgia e referências antigas das relações da infância e juventude do “tempo dos pais”, quanto buscar seguir excessivamente os artigos e estudos da parentalidade científica que tratam de situações gerais, acaba não sendo a melhor solução para moldar uma relação que sempre será única, com cada filho.
Novos tempos, novas relações
O psicólogo assinalou que “os pais e avós viveram, em sua infância, uma era de recursos escassos e mais contato com a natureza. Já os filhos estão na era da superinformação, em que nada sobra para desvelar e as coisas vão rapidamente perdendo o sabor”, como sinalizou. “Temos, assim, filhos com muita informação e pouco saber, o que só se conquista com o experenciar, o saborear”, completou, questionando em seguida: “Quantos de nós, pais, estamos dando aos nossos filhos o direito do saber, em uma relação que transmite, de fato, o nosso amor e que marca a nossa presença para eles?”. Ele ainda afirmou: “Criança quando amada, consegue se projetar amando também no futuro”.
Durante a palestra, Maripietri deu importantes dicas aos pais. Confira algumas:
- Ensinar os filhos a ter empatia e respeitar o outro;
- Não criar filhos dependentes, mas interdependentes, ou seja, autônomos, mas entendendo que também devem fazer em prol do coletivo, o que pode começar, por exemplo, dando a eles tarefas domésticas para benefício coletivo da família;
- Refletir sobre que marca se está deixando na relação com o filho (algo da relação entre vocês que será uma marca positiva e inesquecível para a vida deles, como pequenos códigos, experiências únicas da relação);
- Buscar ser referência, o conforto afetivo, quando os filhos sentirem dúvidas ou precisarem de apoio;
- Abrir canal de escuta aos sentimentos dos filhos sem pré-julgamentos e soluções unilaterais, sem diálogo;
- Ao abrir espaço na agenda para estar com os filhos, estando ciente de que “tempo de quantidade é necessário, tempo de qualidade é decisivo”. Buscar, assim, a justa medida e estar absolutamente presente, quando se está presente”
- Não focar apenas em prepará-los para o mercado de trabalho (a partir de uma visão do tempo dos pais), mas prepará-los para se adaptar às mudanças de mercado e contextos, em plena era de rápidas transformações.
Fonte: Colégio Antônio Vieira