Educar para a autonomia é dar às crianças e aos adolescentes a oportunidade de fazer escolhas, assumir responsabilidades e aprender com seus erros e acertos. Mas essa liberdade só ganha sentido quando vem acompanhada de limites claros, que oferecem segurança e orientação. É nesse equilíbrio entre independência e responsabilidade que se constrói a base para a formação de cidadãos conscientes, capazes de agir com discernimento e comprometidos com o bem comum.
No Colégio Medianeira, em Curitiba (PR), a professora de Matemática do Ensino Fundamental II Patrícia Siebert Bonilauri observa diariamente como esse processo se desenvolve na prática. “Não é só o conteúdo que importa, mas sim a formação de cidadão. Quando trabalho situações-problema ou projetos que envolvem leitura, interpretação, reflexão, consequência, criticidade e, por fim, uma decisão, os alunos começam a entender que suas escolhas têm consequências. Vejo que, aos poucos, eles vão ganhando confiança para agir com mais autonomia e discernimento, mas também aprendem que essa liberdade vem acompanhada de responsabilidade”, afirma.
Ela ressalta que, na adolescência, os desafios são maiores. “Muitas vezes querem liberdade total, mas ainda não têm clareza sobre os impactos de suas escolhas. As redes sociais, a influência dos amigos, o excesso de segurança dos pais e até a ansiedade diante das cobranças podem dificultar esse processo. Por outro lado, também é uma fase riquíssima: eles têm uma energia enorme, curiosidade e muita criatividade. Com professores mediando trabalhos em grupo ou debates que levem a reflexões, os estudantes conseguem transformar essa fase em oportunidades de crescimento”, analisa.
No Colégio Antônio Vieira, em Salvador (BA), a supervisora do Serviço de Vida Comunitária (Sevic), Eilane Piñeiro, reforça que a proposta de formação integral da Rede Jesuíta de Educação (RJE) é determinante nesse caminho. “A autonomia é cultivada à medida que os alunos são incentivados a pensar criticamente, tomar decisões conscientes e agir com liberdade responsável. Já a responsabilidade é fortalecida por meio da formação de cidadãos éticos, comprometidos com o bem comum e conscientes do impacto de suas ações na sociedade”, avalia.
Segundo ela, família e escola são parceiras fundamentais. “Autonomia não é independência total, mas a capacidade de agir com responsabilidade. Ao oferecer apoio equilibrado — sem controle excessivo — família e escola permitem que o estudante experimente, erre e aprenda com as consequências. Quando o colégio se torna um espaço seguro para o desenvolvimento emocional e intelectual, e a família reforça esse ambiente em casa, o estudante se torna protagonista de sua própria trajetória”, enfatiza. Essa autonomia começa cedo, em gestos simples do cotidiano. “As primeiras manifestações de autonomia nas crianças geralmente se revelam quando elas começam a expressar seus sentimentos, fazer escolhas simples, como decidir com quem brincar ou que brinquedo usar, e buscar soluções para pequenos conflitos do cotidiano. Esses momentos são fundamentais, pois indicam o início da construção da identidade e da capacidade de agir com independência”, exemplifica a educadora.
A proposta de educar para a autonomia e a responsabilidade também se conecta aos desafios atuais da tecnologia. Professor de Matemática na Escola Santo Afonso Rodriguez (Esar), em Teresina (PI), Francisco Murilo Soares de Matos apresentou, no II Congresso da RJE, em 2024, o projeto Apropriação de Tecnologias Digitais como Ampliadores na Formação em Cidadania Global. A iniciativa reflete sobre o papel das tecnologias digitais como ferramentas pedagógicas e sociais na formação de estudantes conscientes, críticos e comprometidos com o bem comum. “Não basta utilizar tecnologias no ambiente escolar, é necessário que os estudantes se apropriem delas de maneira ética, crítica e responsável, ampliando seus horizontes de atuação no mundo. Isso significa usar as ferramentas digitais para aprender, comunicar, criar, colaborar e transformar a realidade, local e globalmente”, diz.
Para Francisco, o uso consciente da tecnologia fortalece diretamente a autonomia e a responsabilidade. “As plataformas digitais permitem que os estudantes busquem formações por conta própria, escolham caminhos de aprendizagem e desenvolvam seu protagonismo. Ao aprender a discernir conteúdos e atitudes on-line, passam a agir com mais respeito e ética digital. Além disso, ferramentas de organização contribuem para autogestão, disciplina e foco, ao mesmo tempo em que favorecem uma postura ativa e transformadora”, pontua. Nesse sentido, competências digitais são indispensáveis. “É fundamental que os estudantes desenvolvam o letramento digital crítico, a ética e a segurança digital, a empatia e a comunicação intercultural, além da criatividade, da produção de conteúdo com impacto social positivo e da colaboração on-line. Essas habilidades permitem que exerçam uma cidadania global responsável, utilizando as redes e plataformas digitais como espaços de participação política, ambiental, social e educacional”, complementa.