Novas matérias, novos professores, novos conteúdos para aprender. O início de mais um ano letivo traz, na vida dos estudantes, uma série de mudanças. Com tantas novidades, é fundamental uma organização na rotina de estudos, com planejamento de horários, mapeamento das disciplinas com maior ou menor facilidade e equilíbrio com as atividades de lazer.
A escola, com os professores, orientadores e demais educadores, podem ajudar os estudantes nessa organização. A criação de um hábito de estudo inicia logo no ingresso da criança na escola, constata o Supervisor de orientação pedagógica do 8º e 9º ano do Ensino Fundamental e da 1ª série do Ensino Médio do Colégio Medianeira, de Curitiba (PR), Mayco Delavy. Segundo ele, nos primeiros anos de escolarização, o foco está nos campos de experiência e no brincar, mas já são vivências mediadas por uma rotina, com horários, organização dos espaços, relações com os colegas e educadores. “A escola procura, a partir de técnicas de planejamento e estratégias que visam a eficácia da aprendizagem, tornar essa rotina algo consciente e intencional para que o estudante compreenda que a soma de pequenas ações, no médio e longo prazo, é o que definirá a qualidade dos resultados obtidos ao término da escolarização básica. Gradativamente esse processo que, inicialmente, é parte integrante da cultura escolar, passa também a ser constituinte da vida pessoal do indivíduo. Quanto maior a autonomia do estudante na construção de suas rotinas pessoais de aprendizagem, mais profundas serão as suas relações com a ciência e com o patrimônio cultural e social ofertado pela escola”, frisa.
É necessário que, ainda na infância, a criança tenha um horário determinado para as tarefas escolares, em um espaço adequado, ventilado e iluminado, completa a coordenadora e articuladora pedagógica do Colégio Antônio Vieira, de Salvador (BA), Eliana Maria Bomfim Fonseca. “Aos poucos, as crianças vão compreendendo essa rotina e criando responsabilidade, percebendo a importância desse momento para o desenvolvimento da autonomia, da disciplina e da organização e gerenciamento do seu tempo, como também a assimilação dos objetos de conhecimento aprendidos e as habilidades desenvolvidas no turno de aula.”
É muito importante fazer uma conscientização com os alunos sobre a organização da rotina escolar, afirma a orientadora educacional do Colégio Santo Inácio (CSI), do Rio de Janeiro (RJ), Ana Villela. Ela defende que cultivar hábitos de estudo e se planejar para a preparação de um trabalho permite aos estudantes administrarem melhor seus horários. Quando conseguem ter essa percepção a longo prazo e não deixam para estudar para uma prova somente no dia anterior, eles aproveitam muito mais o próprio tempo, inclusive para o lazer.
“Recentemente, promovemos uma atividade em parceria com o Projeto de Vida, voltada para os alunos da 1ª série do Ensino Médio, com a participação de dois antigos alunos formados no ano passado no CSI. Os convidados partilharam suas experiências e trouxeram com muita delicadeza e tranquilidade a importância de se investir na rotina escolar e perceber que a preparação para o vestibular não acontece apenas na 3ª série, mas deve ser feita durante todo o Ensino Médio. Seja releitura, resumo ou prática distribuída, o importante é que o aluno desenvolva a sua forma ideal de estudar. Afinal, existem ferramentas mais eficazes para uns e outras que funcionam melhor para outros”, conta Ana Villela.
Foco nas atividades mais importantes da semana
Isabela Rosseto, aluna da 1ª série do Ensino Médio do CSI, conta que com a quantidade de disciplinas, a organização dos estudos é fundamental para evitar o acúmulo de matérias. “Procuro planejar meus estudos com foco nas atividades mais importantes da semana. Então se tenho um teste na sexta-feira, já na segunda tento dar uma lida no conteúdo”, diz a estudante. “Sempre que tenho matéria nova, gosto de repassá-la quando chego em casa. Isso me ajuda a fixar melhor os temas.”
A jovem também utiliza algumas técnicas para auxiliar no aprendizado, como fazer anotações em tópicos, praticar exercícios relacionados ao conteúdo e se apoiar em exemplos práticos para assimilar melhor os conteúdos. Para conciliar os estudos do colégio com atividades extracurriculares, como as aulas de inglês e alemão, é preciso ter muita disciplina. “Para desanuviar, eu curto fazer atividade física regularmente e dar pequenas pausas durante o estudo em casa. Sempre que saio para dar uma volta, sinto uma sensação de relaxamento que me ajuda bastante”, afirma.
No Ensino Médio, os estudantes precisam conciliar os estudos escolares com a preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e os vestibulares. Mayco chama a atenção que essa organização começa no primeiro dia de aula da 1ª série. “Esta fase final da escolarização básica, porta de entrada na vida adulta, também exigirá pequenas renúncias (alguns finais de semana, horas de lazer, tempos de acesso às redes sociais)m feitas a partir de um discernimento constante sobre o que, em determinado momento, realmente é importante, sempre tendo em vista, é claro, a meta pessoal escolhida pelo estudante”.
Ajuda da escola e da família
No 6º ano do Ensino Fundamental do CSl, a equipe pedagógica realiza um trabalho específico de organização dos estudos com os alunos. Mônica Faria, professora de História, e Carmen Flores, professora de Inglês, responsáveis pelo projeto de Mentoria da série, explicam que a iniciativa é organizada por etapas.
Em um primeiro momento, os estudantes recebem um calendário com todas as atividades até o fim do trimestre. “A partir disso, passamos algumas orientações, como colocar o calendário em local de fácil acesso e visualização e anotar em suas agendas o período de estudos em preparação para uma determinada prova ou trabalho”, relata Mônica Faria. No final do trimestre, a proposta é retomar a discussão sobre o uso das ferramentas disponibilizadas e discutir sobre os hábitos de estudo de cada aluno, partilhando as vivências e analisando juntos se aquilo que foi colocado em prática deu o resultado esperado.
Mayco afirma que as famílias são fundamentais no processo de constituição de rotinas e hábitos de estudos. “Estudar com os filhos, sobretudo nos anos iniciais de escolarização, gera um sentimento positivo de segurança por parte da criança. Já nos anos finais do Ensino Fundamental II e Médio, a presença dos pais se dá na forma como cada família se relaciona com o conhecimento e com a cultura. Os momentos de leitura, a presença na cena de produção cultural da cidade, os momentos em que se apreciam a arte, a música, a dança, a visita a livrarias, bibliotecas, museus em família como programas de lazer de todos contribui muito na formação do capital cultural dos sujeitos. Essas pequenas ações formam um ethos pessoal capaz de integrar às diversas rotinas o processo de aperfeiçoamento intelectual como algo natural”, explica.
Eliana chama a atenção, ainda, para a transição entre os anos iniciais do Ensino Fundamental para os anos finais, cujo momento é bastante significativo na caminhada escolar do estudante. “Ela exige um certo amadurecimento diante de mudanças relacionadas aos aspectos socioemocionais, físicos e cognitivos. Daí a importância dessa rotina de estudo estar sendo construída ao longo da sua trajetória na Educação Básica, que se inicia na Educação Infantil, para que o estudante perceba a importância do hábito de estudo e adquira autonomia para gerenciar as suas atividades escolares”.
Quer se organizar? Confira algumas dicas:
- Invista no seu autoconhecimento e tenha clareza, com a ajuda dos seus professores e orientadores, de como você aprende;
- Organize o seu horário da semana privilegiando uma divisão equilibrada entre estudo pessoal, lazer, descanso, esportes, leituras, espiritualidade, etc.;
- Pesquise sobre rotinas de estudantes/professores/professoras que tiveram bons resultados ao longo da vida acadêmica. Exemplos de pessoas reais e próximas a nós e que já passaram por um longo período de formação também ajudam a criar a própria forma de estudar e aprender;
- Construa um quadro de horário para organizar as suas atividades, a fim de programar o tempo em que se dedica à sua rotina de estudo.
Fontes: Eliana Maria Bomfim Fonseca, Articuladora Pedagógica do 1º ao 7º ano e Coordenadora Pedagógica do 7º ano do Colégio Antônio Vieira (BA) e Mayco Delavy, Supervisor de orientação pedagógica do 9º ano do Ensino Fundamental à 2ª série do Ensino Médio do Colégio Medianeira (PR).