Por Adriana Fantin, orientadora pedagógica de 1º e 3º ano do Fundamental I do Colégio Anchieta, de Porto Alegre (RS).
Quando se fala em educação, normalmente a imagem que nos vem à cabeça é a dos alunos que devemos ensinar, das metodologias que devemos aplicar e uma enormidade de recursos que poderíamos listar agora, como de extrema importância para que a educação se dê de forma eficiente. O foco do trabalho escolar, sem dúvida alguma, é o aluno como protagonista de sua formação enquanto sujeito da contemporaneidade.
Diante de nós, educadores, uma missão grandiosa: a formação desse sujeito social, com suas peculiaridades próprias, seu modo de ser e de agir, sua vocação, sua missão. E para que sua atuação social seja repleta de significado, sua vida escolar também precisa, portanto, contar com uma Educação Integral centrada nos alicerces das dimensões cognitiva, socioemocional e espiritual-religiosa. Há uma identidade, um pertencimento e um sentimento vinculados à experiência que devem ser estudados, amadurecidos e entendidos pelos profissionais que atuam na Rede Jesuíta por meio dessas dimensões.
A educação sempre teve sua função social. Ainda hoje, em muitos espaços educacionais, ela apresenta-se como um modelo de reprodução, sustentada por um padrão político que impõe o perfil de sociedade que se deseja. Há muitos teóricos que trazem os efeitos dessa educação para a sociedade e qual a intenção por trás disso. O que temos que ter em mente é que não há neutralidade no que diz respeito à educação. Nessa perspectiva, qual o posicionamento da Pedagogia Jesuíta? O que ela almeja para a sociedade? Que importantes contribuições pode trazer à sociedade?
Para que a Educação Integral se dê de forma eficiente, precisamos dos profissionais que conduzem as experiências dos alunos de forma que as reflexões e ações possam verdadeiramente efetivar-se, como traz o Paradigma Pedagógico Inaciano. Nesse processo, o profissional da educação tem papel relevante e fundamental. Para tanto, faz-se necessário que em sua formação permanente também ele possa perceber a importância do paradigma inaciano que sugere Experiência – Reflexão – Ação – Reflexão.
A formação de educadores, com o olhar para as necessidades de seus educandos, precisa mais do que nunca ser aprimorada. Em uma cultura de diversidade social, racial e cultural, há muito que se entender e adequar aos novos anseios da humanidade. As mudanças são necessárias tanto nas metodologias e concepções de ensino quanto nas relações interpessoais. Somos sujeitos em permanente transformação, e isso deve significar ampliar nossos horizontes e melhorar nossa capacidade de entendimento sobre o mundo em que vivemos e que devemos cuidar e proteger em todas as suas dimensões.
Portanto, a formação de educadores precisa contemplar todo esse universo multifacetado que é a contemporaneidade com vistas a entender esse novo sujeito que é o nosso aluno, o contexto no qual ele está inserido, o momento histórico do qual ele faz parte e, a partir disso, através da organização curricular, abrir espaços de escuta a fim de ajudá-lo a desenvolver suas habilidades no entendimento de que ele é corresponsável pela sociedade e sua colaboração é valiosa para a humanidade. Enquanto professores, precisamos ter consciência de que nosso exemplo vivo pode representar um desafio para que nossos alunos cresçam como “homens e mulheres para os demais” e que se sobressaiam por demonstrar condutas de integridade, compaixão e entendimento sobre os problemas sociais. A sensibilidade do educador no Colégio Anchieta precisa estar de fato nas suas atitudes diante do aluno, no pleno entendimento de que sua intenção e sua intervenção podem encaminhar de forma plena e segura os educandos que estão sob sua responsabilidade
Verdade, fé e justiça são, de acordo com a Pedagogia Inaciana, requisitos indispensáveis à formação do professor para que esse atinja a excelência humana tanto quanto ou mais do que a excelência acadêmica. Como educadora da Rede Jesuíta e observando tudo quanto já foi dito e experienciado por mim na Companhia, coloco-me como modelo de inspiração para outros que, como eu, buscam a melhor maneira de ser útil às pessoas no exercício do magistério. Para além da formação acadêmica, o educador inaciano precisa, antes de mais nada: ser atento às necessidades de seus alunos, ser parceiro nas conquistas deles, ser presente também nas angústias, ser um pesquisador, ser um bom mediador de conflitos, enfim, ser exemplo vivo de pessoa que, com clareza e discernimento, busca desenvolver suas competências de modo compassivo, comprometido e consciente.
Apuro a visão de tudo quanto aprendi ao longo desta jornada e chego à conclusão de que o curso oferta generosamente uma trilha e seu percurso pode ter muitos caminhos, muitos atalhos, muitos obstáculos, mas todos eles levam ao mesmo destino: permitir que as pessoas façam suas experiências e alcancem seu MAGIS. Mais do que isso, que auxiliem outros a alcançá-lo também.
Lembro então de que Inácio de Loyola não andou só. Muitos companheiros o ajudaram e foram ajudados por ele. Ele não teve certeza sempre, mas o que nunca lhe faltou foi coragem… coragem e ousadia. Que não nos falte nem uma, nem outra. E que sigamos parceiros, desejosos de mudanças, sedentos pelas melhorias e animados como só os bons jesuítas sabem ser. O caminho da educação nunca foi e nunca será um caminho pronto, vai se formando ao andar. Este ensinamento é o que levarei na estrada que escolhi trilhar.
* Trecho do artigo apresentado ao curso de Educação Jesuítica: Aprendizagem Integral, Sujeito e Contemporaneidade, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e publicado no livro “Educação Jesuítica: aprendizagem integral, sujeito e contemporaneidade. Tematizando práticas e experiências significativas” (2018).