Jovens protagonistas e preocupados com questões mundiais: III ONU Intercolegial e o seu papel na formação de cidadãos globais

O terceiro Identificador Global dos Colégios Jesuítas afirma que as instituições “estão comprometidas com a Cidadania Global”, ou seja, a educação “não deve ser apenas um complemento, mas integrada ao currículo central. Isto acontece quando professores e estudantes incorporam exemplos globais e culturais ao longo de seus estudos; quando são ensinadas habilidades comunicativas que sejam inclusivas, efetivas e globalmente conscientes; quando todas as disciplinas são abordadas a partir do reconhecimento da globalização e do seu impacto na aprendizagem no século XXI; e quando as experiências globais e multiculturais são priorizadas nas realizações dos estudantes”  (Colégios Jesuítas: uma tradição viva no século XXI, 2019, p.66).

E como isso pode ser aplicado na prática? Uma das possibilidades é com a realização de “programas colaborativos entre colégios para examinar questões globais e iniciar projetos comuns” (p. 67). Atualmente, a juventude tem se destacado não apenas pelo seu potencial transformador, mas também pelo seu engajamento em questões que transcendem fronteiras, e esse envolvimento fica evidente com o projeto ONU Intercolegial, uma simulação da Organização das Nações Unidas (ONU). Na atividade, os estudantes assumem os papeis de secretários-gerais, diretores,  delegados e jornalistas  nos comitês da ONU, defendendo as posições dos países ou instituições que representam nos temas de debate. “Penso que a ONU Intercolegial da Rede Jesuíta de Educação tematiza a cidadania global que nós queremos desenvolver com os nossos estudantes sobre o aspecto das trocas, da convivência, do estudo, da profundidade, da interculturalidade, da corresponsabilidade pela grande família humana nesta casa comum. Os estudantes são preparados para entender e respeitar a diversidade das culturas mundiais e estarem abertos a experiências de países, costumes e culturas diferentes das suas e para conscientizarem-se numa perspectiva global de todas as formas de injustiça social”, analisou o diretor da Rede Jesuíta de Educação (RJE), professor Fernando Guidini.

A Rede organizou a I ONU Intercolegial em setembro de 2018, no Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro (RJ).  A segunda edição do projeto, prevista para 2020, no Colégio Diocesano, foi adiada em função da pandemia, e aconteceu virtualmente em 2022, reunindo 120 estudantes do Ensino Médio. A III ONU Intercolegial aconteceu recentemente, entre os dias 11 e 14 de junho, no Colégio Antônio Vieira, em Salvador (BA). Foram quatro dias, 210 participantes (entre estudantes, educadores e antigos alunos), 14 unidades educativas, 12 cidades de nove estados do Brasil, dez sessões, mais de 20 horas de debate e infinitas trocas de experiências e aprendizados. “Em 2016, ainda nos primeiros anos de criação da Rede e de articulação, foi optado pela Simulação das Nações Unidas como um dos projetos que seria prioritário e desenvolvido em nível de Rede. O grande diferencial que a gente entende desse projeto é que os estudantes estão à frente desde os primeiros passos da organização, de decidir quais são os comitês, os temas dos comitês, os países”, explicou o secretário executivo da RJE, Pedro Risaffi.

Aprendizagem para toda a vida

O projeto da ONU Intercolegial envolve, além dos estudantes, um grupo de educadores e antigos alunos comprometidos, desde o início, em uma construção colaborativa entre as unidades da Rede. “Com este projeto, os alunos desenvolvem capacidades de liderança e de análise frente às questões exigidas hoje nesse mundo contemporâneo”, frisou Léa Pontes, coordenadora da 1ª série do Ensino Médio do Colégio Antônio Vieira e assessora estratégica da III ONU Intercolegial. Para Guidini, é um evento de muitas aprendizagens, em que os estudantes saem mais fortalecidos e seguros quanto às suas caminhadas futuras, e conscientes da responsabilidade que cada um tem na construção de um mundo mais fraterno, mais solidário e sustentável. “A desenvoltura, a segurança, o domínio intelectual demonstrados nesses momentos constituem aprendizado para toda a vida. Além desses conhecimentos, também no que tange à dimensão socioemocional, as aprendizagens são evidenciadas na postura respeitosa e ética nos momentos de debates, especialmente quando surgem opiniões opostas, no calor das discussões e no atendimento às regras previamente acordadas. A dimensão espiritual-religiosa permeia todos os momentos, seja na escolha dos temas dos comitês que contemplam questões comunitárias candentes, seja no exercício da empatia e da compaixão, no acolhimento ao outro”, analisou.

Diferentes unidades da Rede oferecem simulações internas da ONU para os estudantes. E são a partir dessas experiências que eles desenvolvem uma série de habilidades para a ONU Intercolegial.  Ana Laura Lopes, do Colégio Anchieta, em Porto Alegre (RS), começou a simular em 2020 e já são mais de 15 simulações presenciais em sua trajetória escolar.  “Projetos assim são muito importantes, tanto academicamente quanto na parte e na dimensão humana. Academicamente, porque a gente acaba estudando e aprendendo sobre assuntos que nem sempre são tratados em aulas e a gente desenvolve também habilidades, como a oratória e a argumentação, mas também porque nos conectamos com pessoas de todos os estados e há muitas trocas e partilhas muito interessantes e importantes, além de exercer a cidadania”, contou.

Em sua primeira simulação, em 2022, João Neto, estudante do Colégio Antônio Vieira, conquistou uma menção honrosa como jornalista, no Comitê de Imprensa. Além disso, já atuou como delegado no Colégio Militar de Salvador, e também foi premiado. “O que eu levei da simulação para a minha vida foi a conexão entre pessoas que a Intercolegial proporciona. A essência desse projeto é ligar pessoas com experiências diferentes, de colégios diferentes e, para mim, isso foi engrandecedor”, disse.  “A ONU Intercolegial auxilia no desenvolvimento de resolução de problemas, mas também em outras habilidades, como falar em público, consciência de coletividade e abraçar opiniões que talvez sejam diferentes da sua própria. Os comitês abrangem vários tópicos e temas diferentes, que são assuntos históricos e reais, que aproximam e trabalham a maturidade dos alunos nessa questão”, complementou Melina Sucasas Coelho Campos, do Colégio Loyola, em Belo Horizonte (MG).

Muitos antigos alunos das unidades da RJE, ao participarem de simulações internas em suas instituições e até mesmo das edições anteriores da ONU Intercolegial, optaram por cursar Direito e Relações Internacionais. É o caso de Beatriz Costa, ex-aluna do Vieira, atual estudante de Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e secretária-geral da III ONU Intercolegial.  De 2019 a 2021 foi delegada, em 2022 secretária geral da V ONU Colegial e atuou como diretora do CSNU, o Comitê Simulado na II ONU Intercolegial. “O diferencial da ONU Intercolegial é justamente a diversidade cultural que pauta o projeto. Existem diversas diferenças de procedimento, mas a gente percebe o quanto todos estão muito comprometidos em construir coletivamente essa simulação”. 

João Pontes, também ex-aluno do Vieira e secretário-geral da III ONU Intercolegial, tem muito interesse na área de direito internacional público, relações internacionais e diplomacia, muito em função das vivências como delegado e diretor de mesa.  “Os projetos de simulação da ONU foram muito importantes para a minha escolha profissional. Agora, como secretário, também tive um impacto na minha habilidade de gestão, de conseguir conduzir o grupo. Nós temos reuniões periódicas com a coordenação, lidando diretamente com a instituição do Vieira. Então, para mim, tem sido um privilégio e também uma responsabilidade muito grande assumir essa posição”, contou. 

“É extremamente gratificante poder ser reconhecida e chamada para participar da direção de uma mesa em um evento tão grande da Rede. É muito legal toda a troca com o pessoal e experiências únicas, que fazem toda a diferença, tanto na minha formação pessoal quanto profissional, de saber lidar com problemas e interagir com outras pessoas e culturas”, agradeceu Amanda Walker, antiga aluna do Colégio Anchieta, em Porto Alegre (RS) e estudante de Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Crédito das fotos e do vídeo: Colégio Antônio Vieira

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