Cunhado pelo antropólogo Jamais Cascio, o acrônimo BANI reflete o mundo que nós criamos e onde vivemos. Em tempos frágeis (Brittle), repletos de ansiedade (Anxious), onde os acontecimentos se dão de forma não-linear (Nonlinear) e as respostas são, às vezes, incompreensíveis (Incomprehensible), torna-se urgente encontrar um caminho que seja menos pedregoso e onde possamos ver luz no fim do túnel.
No mundo BANI, tudo está relacionado, entrelaçado. Exatamente por isso uma das trends do momento é o termo Cidadania Global, uma expressão simples, porém tão complexa, que congrega diversos significados e que pode ser conjugada de diferentes formas. O primeiro passo para conjugar a “cidadania global” é focar no pronome e no tempo verbal. Somos nós e somos agora!
Podemos definir este conceito como a aquisição de conhecimentos e habilidades que nos permitem reconhecer diferentes perspectivas. Mas o que queremos dizer com isso, de fato? Falamos de empatia, de educação em valores, respeito pelos direitos humanos, justiça social, diversidade, sustentabilidade. E mais, muito mais.
A tolerância, o diálogo intercultural e o respeito pela diversidade são mais essenciais do que nunca em um mundo no qual as pessoas estão se tornando cada vez mais interconectadas.”
– Kofi Annan, Diplomata de Gana e Secretário Geral das Nações Unidas (1997-2006)
A humanidade é um todo, uma única comunidade mundial, separada em povos, países, etnias. No entanto, estamos entrelaçados, unidos por laços invisíveis e, principalmente, pelo futuro que temos em comum. Ser um cidadão global envolve a capacidade de desenvolver uma visão plural e transformadora da sociedade em que estamos inseridos.
A tarefa de homens e mulheres do século 21 é colocar em prática esse belo discurso, transformando a reflexão em ações. Mas, diante de um mundo tão vasto, nos deparamos com o desafio de adotar uma postura e um pertencimento global, que parte do local para o global – ou seria o contrário?
A pergunta que não quer calar é como fazer isso, e a resposta esperada é uma lista de atitudes que cada um possa adotar no seu dia a dia e pronto, salvamos o mundo! No entanto, em vez disso, como dito pelo Papa Francisco, na Encíclica ‘Fratelli Tutti’, cada uma precisa ter “um coração aberto ao mundo inteiro”. Para sermos cidadãos globais, precisamos ser presença transformadora no mundo, e podemos começar por nós mesmos, pelo colega, pela família. É preciso respirar, inspirar, ser sopro e inspiração.
Dentro do entendimento da Pedagogia Inaciana, a educação para a cidadania global é transversal e não foca em um saber meramente conceitual. O objetivo principal deve ser transformar conteúdos em conhecimentos, habilidades em competências, para que possamos ser, no plural, a mudança que queremos ver no mundo, como já dizia Mahatma Gandhi.
Ao mesmo tempo em que não mudaremos a essência BANI do mundo, podemos, sim, mudar o mundo, com um abraço compassivo, um olhar comprometido, uma ação consciente, uma atitude competente e ideias criativas, conforme os objetivos da Rede Jesuíta de Educação. Somos muitos corações. E ao abri-los para o mundo, abrimos uma porta para toda a humanidade. É hora de deixá-la entrar.
Sobre a autora:
Luciana Ache é Orientadora Educacional do Colégio Santo Inácio RJ