História da Educação Jesuíta no Brasil
A Chegada dos Jesuítas no Brasil e as primeiras escolas
No dia 29 de março de 1549, ao desembarcar da numerosa expedição do 1º. Governador Geral, Tomé de Sousa, no Arraial do Pereira, na Bahia de Todos os Santos, os seis jesuítas, liderados pelo Pe. Manuel da Nóbrega tornaram-se o primeiro grupo da nascente Companhia de Jesus que chegava às Américas.
Aos 15 dias do primeiro desembarque, na Bahia, enquanto os portugueses iam construindo a cidade de Salvador, ao lado do Arraial do Pereira, os jesuítas colocavam em funcionamento a primeira instituição educativa em solo brasileiro, que construíram por suas mãos, indo ao mato buscar a madeira e fazendo as taipas. Era uma escola elementar de ler, escrever, contar e cantar, dirigida pelo estudante jesuíta Vicente Rodrigues, de 21 anos de idade, o primeiro mestre-escola do Brasil.
Os jesuítas entendiam a sua missão evangelizadora numa dupla dimensão, de catequese e instrução, que se alternavam e reforçavam no currículo escolar. Considerando muito difícil arrancar os índios adultos de costumes inveterados como a poligamia, o alcoolismo e a antropofagia, desde cedo os jesuítas concentraram os seus esforços educativos no segmento das crianças: curumins, mestiços ou mamelucos, e filhos dos portugueses adventícios.
Ao lado de cada residência, ao longo da faixa litorânea do Brasil, os jesuítas foram constituindo escolas de ler e aprender, ou escolas de bêa-bá, para o ensinamento da religião católica e das primeiras letras, e os recolhimentos ou internatos, as ´casas de meninos´. Além das escolas, os jesuítas no Brasil, a exemplo do que acontecia na Europa, também foram fundandos colégios, com a finalidade primeira de formar quadros para a Companhia de Jesus, mas com vagas para alunos externos. O primeiro colégio jesuíta no Brasil foi o Colégio dos Meninos de Jesus, fundado em 1550, em Salvador, que se tornou modelo para os subsequentes. Na mesma ocasião, o Pe. Leonardo Nunes começava em São Vicente um colégio homônimo e similar ao da Bahia. Como a quase totalidade dos 100 alunos deste colégio provinha do planalto de Piratininga, o Pe. Nóbrega houve por bem transferi-lo para lá, reinaugurando-o com o nome de Colégio de São Paulo, por ter sido na festa litúrgica do seu patrono, em 1554.
Anchieta, o principal educador
Dentre o corpo docente, a figura que se destaca é a do então estudante jesuíta José de Anchieta pela agilidade intelectual, pela criatividade pedagógica e flexibilidade diante dos costumes das crianças. Sabia português, latim e espanhol e logo aprendeu o tupi, escrevendo a primeira gramática e traduzindo o catecismo e outros textos para a catequese das crianças. Foi professor nos colégios de Salvador, de São Vicente e de São Paulo e diretor dos colégios do Rio de Janeiro e de Vitória. Nóbrega considerava Anchieta excelente secretário, tendo-lhe confiado a redação dos relatos sobre a missão que era preciso enviar periodicamente para o governo provincial jesuíta em Portugal.
O desempenho polivalente de Anchieta granjeou-lhe dos seus biógrafos diversos títulos, como educador do país, inaugurador da literatura, fundador do teatro, poeta, epistológrafo, etnólogo, indigenista, pacificador, cofundador da cidade de São Paulo. Com razão a Igreja Católica coloca, desde 2015, São José de Anchieta, como Padroeiro do Brasil, junto a Na. Sa. Aparecida.
A supressão da Companhia
A expulsão dos jesuítas de Portugal, Brasil e demais domínios, por decreto do Marquês de Pombal, a 3 de setembro de 1759, atingiu no país 590 jesuítas (sendo 316 sacerdotes), então registrados em duas circunscrições administrativas: a Província do Brasil e a Vice Província do Maranhão. Foram forçados a abandonar 17 colégios e 10 seminários que administravam em 12 municípios, desde Belém do Pará até Paranaguá, além de 55 missões entre os nativos, num total de 131 casas religiosas.
Com a retirada dos jesuítas, outras ordens religiosas que já missionavam no Brasil – beneditinos, carmelitas, franciscanos e mercedários – foram assumindo, em diferentes ocasiões, a direção dos colégios e escolas. As escolas de ler e aprender, cuja gestão não apresentava maior complexidade, foram assumidas por vigários e clérigos das diversas localidades.
A retomada educacional a partir da restauração da Companhia
Em 1841, 82 anos após a expulsão e restaurada há 27 anos, a Companhia de Jesus retornou ao Brasil, a partir de um pequeno grupo de jesuítas espanhóis que havia saído da Argentina e por pouco tempo passou pelo Uruguai e trabalhou no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, dirigindo-se para Desterro, hoje Florianópolis.
Em 19 de setembro de 1845 os jesuítas, cujo trabalho missionário estava sendo muito apreciado pela população de Desterro, abriram, a pedido das autoridades locais, o Colégio dos Missionários. No mesmo ano o colégio foi visitado e elogiado pelo Imperador Pedro II, que percorria a região. O colégio foi fechado nove anos depois, quando a epidemia de febre amarela matou três alunos e seis dos doze jesuítas.
A seguir os jesuítas estabeleceram no ano de 1847, em Porto Alegre, uma Escola de Gramática. Em 1865 tornaram a fundar um colégio em Desterro, o Colégio do Santíssimo Salvador, que durou cinco anos porque o governo local rompeu o contrato que havia celebrado com os jesuítas da então Província Romana, mantenedora da obra.
Em 1867 foi criado em Recife o Colégio São Francisco Xavier, que durou sete anos. Nesse mesmo ano foi constituído o quarto colégio pela restaurada Companhia de Jesus, o São Luís, em Itu, que foi transferido para a cidade de São Paulo em 1918.
Em 1870 os jesuítas da então Província da Galícia e da Província Germânica estabeleceram em São Leopoldo o Ginásio Nossa Senhora da Conceição, visando a formação de professores para as escolas da redondeza, fechado em 1912, para converter-se em Seminário Provincial. Nos 43 anos de existência foi o mais antigo colégio católico no Sul do Brasil. Em 1886, foi criado em Nova Friburgo o Colégio Anchieta, e em 1890 o seu homônimo, em Porto Alegre. Já no final do século XIX, em 1895, os jesuítas alemães fundaram o Ginásio São Luís Gonzaga, em Pelotas, cuja direção passou a ser assumida, em 1926, pelos Irmãos Lassalistas.
Os jesuítas começaram o século XX instituindo, em 1903, o Ginásio do Sagrado Coração de Jesus, na cidade do Rio Grande, no sul do país, fechado depois de 10 anos por carência de pessoal. No mesmo ano criou-se o Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro, que nos anos 80, ao ultrapassar cinco mil alunos nos turnos matutino, vespertino e noturno, tornou-se o colégio mais numeroso da Companhia. Em 1905 deu-se nova fundação dos jesuítas em Florianópolis, a do atual Colégio Catarinense. Pouco depois os jesuítas portugueses, expulsos do seu país, fundaram, em 1911, dois colégios na Bahia, Antonio Vieira, em Salvador e, no ano seguinte, o Instituto São Luís, em Caetité, tendo-o deixado em 1926. Em 1917 nasceu em Recife o Colégio Nóbrega, que adquiriu muito prestígio no Nordeste, mas foi fechado em 2006, por problemas financeiros e administrativos. Em 1928 estabelece-se em São Paulo o Colégio São Francisco Xavier, para imigrantes japoneses. Em Minas Gerais começou em Belo Horizonte o Colégio Loyola, em 1943.
Ainda na metade do século XX foram fundados mais três colégios jesuítas no Brasil, o Santo Inácio, em 1955 em Fortaleza; em 1956, em Juiz de Fora o Colégio dos Jesuítas, que antes se chamou Colégio Nossa Senhora Imaculada e o Colégio Nossa Senhora Medianeira, na cidade de Curitiba, em 1957. Em 1960 os jesuítas de Teresina assumiram a direção do Colégio São Francisco de Sales, também conhecido como Colégio Diocesano, pois havia sido fundado pela Arquidiocese e funcionado, com algumas interrupções, desde 1906.
Além de atuar nos colégios clássicos, os jesuítas se dedicaram também a escolas técnicas. Em 1959 assumiram a direção da Escola Técnica de Eletrônica, em Santa Rita do Sapucaí (MG). Foi a primeira escola no gênero, de nível médio na América Latina, estabelecida por Dona Luzia Rennó Moreira, conhecida como Dona Sinhá. Em Teresina, no bairro Socopo, foi criada, em 1965 a Escola Agrícola Santo Afonso Rodrigues, atualmente transformada em colégio de Ensino Fundamental, Médio e de Cursos Técnicos.
Trechos retirados do texto Trajetória da educação jesuítica no Brasil, do P. Luiz Fernando Klein. Maio, 2016
Link para baixar o texto completo: https://pedagogiaignaciana.com/